Ano XVII 01
1º semestre de 2022
poesia
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DOIS POEMAS

Granada

Quem sabe a sorte não estava mesmo

nas mãos da cigana

que me encurralou na viela escaldada;

ou quem sabe não estava o destino

distribuído entre os dedos de todas

as amigas ciganas

da cigana, de toda a matilha;

 

quem sabe não me salvei

quando entreguei à cigana

de olhos de rútila

aquilo que ela exigiu

quem sabe ainda estou ali

diante da cigana

e seus olhos sem perdão

 

 

Ampulheta (única certeza)

e pensar que

seu nome é também

o vidro das horas


* Julia de Souza nasceu em São Paulo em 1986. Estudou Letras na FFCH da USP e é mestre pelo departamento de Literatura Brasileira, com estudo sobre a obra de Hilda Hilst. Como poeta, publicou: Covil (7Letras, 2013), Gigante vermelha (7Letras-Megamini, 2016) e As durações da casa (7Letras, 2019).