Granada
Quem sabe a sorte não estava mesmo
nas mãos da cigana
que me encurralou na viela escaldada;
ou quem sabe não estava o destino
distribuído entre os dedos de todas
as amigas ciganas
da cigana, de toda a matilha;
quem sabe não me salvei
quando entreguei à cigana
de olhos de rútila
aquilo que ela exigiu
quem sabe ainda estou ali
diante da cigana
e seus olhos sem perdão
Ampulheta (única certeza)
e pensar que
seu nome é também
o vidro das horas
* Julia de Souza nasceu em São Paulo em 1986. Estudou Letras na FFCH da USP e é mestre pelo departamento de Literatura Brasileira, com estudo sobre a obra de Hilda Hilst. Como poeta, publicou: Covil (7Letras, 2013), Gigante vermelha (7Letras-Megamini, 2016) e As durações da casa (7Letras, 2019).