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Crítica e curadoria

Falar da crise contemporânea da crítica tornou-se lugar-comum, enunciado quase sempre com pesar por agentes do campo artístico: jornalistas culturais, ensaístas, professores universitários. A ideia de crise costuma subentender duas perdas concomitantes: a derrocada do papel da crítica como instância legitimadora e o decréscimo do debate sobre os elementos especificamente artísticos. No primeiro caso, a recepção do mercado seria sagrada como instância legitimadora, enquanto os veículos tradicionais que abrigavam críticos acadêmicos ou não, como revistas especializadas e cadernos culturais, deixariam seu papel de divulgadores de obras e correntes de interpretação. No segundo, elementos externos, como a identidade do(a) artista, a importância da temática e a representatividade de grupos sociais, teriam centralidade, deslocando outros critérios de avaliação.

O ato crítico – entendido como o ato de discernir e relacionar obras –, no entanto, ganha importância nos mais diversos campos artísticos: a curadoria. Nesse ato, ele usa o trabalho crítico, construindo relações e produzindo, pela escolha, pelo direcionamento e pelos paratextos, uma interpretação, mesmo que aberta, do que é mostrado.

No próximo dossiê, com curadoria de Miguel Conde, professor adjunto do Departamento de Ciência da Literatura da Faculdade de Letras da UFRJ, e de Inês Cardoso, professora do curso de Estética e Teoria do Teatro da UNIRIO e do PPGAC-UNIRIO, a Revista Z Cultural se propõe a discutir o papel, hoje, da crítica e da curadoria nos mais diversos campos artísticos, como as artes cênicas, as artes visuais e audiovisuais, a cena musical e a literatura. Esperamos artigos que tratem das novas tendências da crítica e da curadoria; da relação entre autonomia do campo e representatividade de grupos sociais; da crítica como criação, abandonando o caráter normativo da tradição moderna; da curadoria não apenas de exposições, mas de eventos, coleções, festivais, prêmios. Também serão bem-vindos artigos que revisitem, do ponto de vista contemporâneo, o legado da crítica do século XX, quando jornalistas, ensaístas e pesquisadores construíram leituras canônicas das artes, muitas vezes em polêmica aberta com outros agentes do seu campo de atuação.

Desejamos que este número da Z contribua para qualificar o debate sobre as transformações e possibilidades do crítico e do curador, figuras ainda fundamentais para o campo artístico.

Equipe da Revista Z Cultural

Os textos podem ser enviados até o dia 30 de novembro de 2023 para o e-mail revistazcultural@gmail.com, respeitando-se as normas de publicação da revista.