Ano XVIII 01
dossiê
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“LEMBRANÇAS À CAROLINA”: EXPERIÊNCIA DE LETRAMENTO RACIAL NAS AULAS DE LITERATURA NA REDE PÚBLICA

No ano de 2020, em meio à pandemia do coronavírus no Brasil e no período de aulas remotas nas escolas, as professoras Penha Élida e Olivia Melo organizaram o projeto Lembranças à Carolina junto aos alunos do primeiro ano do ensino médio do Instituto Federal Fluminense do campus Macaé. A partir da leitura em sala de aula do livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, e do contato com vídeos de performance de slam, os estudantes produziram coletivamente um e-book repleto de poemas, artes visuais e audiovisuais autorais. Cada turma criou ainda uma conta no Instagram para publicar as produções realizadas em sala e divulgar o material literário, fortalecendo o papel de protagonismo e autoria desses estudantes. O material foi posteriormente editado e disponibilizado gratuitamente na biblioteca digital do IFFluminense.[1]

Para a produção final do ciclo de aulas, os alunos se dividiram em grupos e elaboraram poemas e performances de slam e produções não verbais, como ilustrações e fotografias, que dialogavam com o movimento slam poetry e com Carolina Maria de Jesus. Ao todo, participaram sete turmas de primeiro ano do ensino médio integrado ao ensino técnico. A criação do e-book final foi de responsabilidade coletiva das turmas, o que envolveu confecção de capa, título, artes, QR codes, etc. Ao fim, o livro digital foi separado por seções, reunindo os trabalhos de cada classe participante.

O trabalho realizado pelas professoras germinou, portanto, na produção de dois materiais finais. O primeiro, o anteriormente citado Lembranças à Carolina: releituras de um quarto despejado, contendo a produção artística dos alunos, e o segundo, Algumas poesias: produções inspiradas em Carolina Maria de Jesus, voltado aos discentes, abordando a pesquisa realizada pelas professoras, questões didáticas e instruções de organização de aulas, um material rico que explicita como os alunos leram e interpretaram Carolina Maria de Jesus.

Figura 1: Arte de Victoria de Oliveira, Thyago Andrade e Thomas Alvarenga (p. 62).
Figura 1: Arte de Victoria de Oliveira, Thyago Andrade e Thomas Alvarenga (p. 62).

A questão inicial que impulsionou o trabalho das professoras foi pensar como a autoralidade poderia contribuir para o letramento literário nas aulas de língua portuguesa, uma vez que, em trabalhos anteriores, as educadoras já vinham refletindo sobre a importância do trabalho de produção e publicação de conteúdo literário. Mesmo que, inicialmente, as aulas não fossem pensadas como um trabalho de letramento racial, toda a sua esquematização é um exemplo claro de letramento bem-sucedido que pode (e deve) ser reproduzido por nós, professores, que pensamos o tema.

Em meio à barbárie, por que ensinar literatura? Essa foi a pergunta que a professora Olivia Melo se fez enquanto refletia sobre seu papel como professora da rede pública, ministrando aulas em um período de pandemia nunca visto antes, em um Brasil no qual a necropolítica do Estado ganhava cada vez mais força. A partir dessa reflexão, as professoras buscaram fazer com que os jovens tivessem contato com literatura a partir de um repertório significativo para aquele momento. Nesse sentido, entra em jogo o livro Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus, uma mulher negra, pobre, moradora da periferia de uma grande cidade que registra em seu diário aquilo que sente e pensa, sua realidade e experiências, evidenciando toda uma potência como escritora.

O livro de Carolina é um exemplo de literatura do século passado que dialoga perfeitamente com o presente vivenciado por aqueles alunos. No mesmo caminho entra o slam poetry, um novo cenário da literatura marginal que rompe com as normas da literatura instituída, um modo de fazer poesia instaurado dentro e fora da fronteira do que tradicionalmente concebemos como realidade e como ficção. Um fazer poético flexível e de período curto de produção, de modo que sempre seja adaptável aos temas e problemas do seu tempo (que, no contexto do projeto, foi a pandemia).

Dessa forma, o cenário político e social do país em 2020 é mesclado à sala de aula, lugar em que o ensino de literatura ganha novo peso-sentido no estado do Rio de Janeiro, que, naquele momento, registrava maior número de mortes por Covid-19 entre pessoas negras e pobres, provando que morte e vida têm valores diferentes a depender da cor da pele. No mesmo ano, o Rio de Janeiro batia ainda o recorde histórico de mortes por policiais dentro de comunidades (a maioria das vítimas negras), polícia que mesmo durante a pandemia seguiu invadindo favelas e exercendo sua licença para matar. O mesmo estado que promoveu condições precárias de isolamento social, dificultando (e em muitos casos negando) o acesso de moradores das favelas à água e ao saneamento básico, necessários ao combate à propagação do vírus.

Logo, o estado passa a criar, a partir da pandemia do coronavírus, uma novíssima tecnologia para o funcionamento do necropoder, um mecanismo bem-sucedido que vem mantendo as funções assassinas do estado (Mbembe, 2016) ativas ao longo das últimas décadas e que agora ganhava reforço. Lélia Gonzalez, ao falar sobre a favela e a divisão racial do espaço em um texto de 1984 intitulado “Racismo e sexismo na cultura brasileira”, revela uma realidade ainda não superada e que adquire novas camadas com a pandemia:

No grupo dominado o que se constata são famílias inteiras amontoadas em cubículos cujas condições de higiene e saúde são as mais precárias. Além disso, aqui também se tem a presença policial; só que não é para proteger, mas para reprimir, violentar e amedrontar. É por aí que se entende por que o outro lugar natural do negro sejam as prisões (Gonzáles, 1984, p. 232).

Quando as professoras se perguntam o porquê de ensinar literatura no Brasil pandêmico, elas mobilizam o lugar da escola como um importantíssimo espaço de reflexão crítica, que historicamente esteve pautada pela perspectiva e pela fala brancas. Em um período agudo de violências contra o corpo racializado, é urgente encarar e debater o mundo a partir de experiências e olhares diversos, uma vez que “a forma mais poderosa de sustentação e manutenção do racismo é a pretensa “transparência”, a neutralidade da linguagem e da história. Em boa parte, é por meio da linguagem que o racismo se mantém e se perpetua de modo aparentemente “invisível” (Almeida, 2017).

Ao deparar em sala com os escritos de Carolina Maria de Jesus e a produção de jovens slammers que estão debatendo o Brasil de hoje, os alunos defrontam (e confrontam) as diversas formas de produção do silenciamento do sujeito-aluno negro, que ao longo da história do Brasil ganharam força a partir dessas novas e velhas tecnologias. Silenciamento a partir da noção de precariedade narrada em Quarto de despejo, como a fome, a falta de saneamento e moradia, ou a partir da falta de cultura e educação (tema constante nas narrativas de coletivos slam, como o Slam Interscolar), impedindo a produção intelectual de pessoas racializadas, dado que a “pobreza e miséria crônicas, ausência de políticas de inclusão social, tratamento negativamente diferenciado no acesso à saúde, inscrevem a negritude no signo da morte no Brasil” (Carneiro, 2005, p. 94). A pandemia do coronavírus foi usada pelo Estado brasileiro como um importante instrumento desses outros silenciamentos de corpos negros e precarizados, o que vemos na falta de atuação dos governos em dar às pessoas mais pobres o acesso a higiene, saúde, vacina, moradia, educação, internet, de uma lista pode seguir adiante.

Torna-se necessário também analisar o outro lado da pirâmide quando tratamos de silenciamento: aquele que silencia. O silêncio dos brancos, ao contrário do silêncio imposto ao negro, funciona como uma espécie de pacto narcísico, que, como escreve Cida Bento em O pacto da branquitude (2022), sustenta um contrato invisível firmado por iguais (homens brancos, em sua maioria), os quais, para manter e alicerçar seus privilégios, desenvolvem uma incapacidade de ver qualquer coisa além de si, engatilhando artimanhas de exclusão e invisibilização da participação negra. Esse pacto narcísico é facilmente encontrado em variados setores da sociedade contemporânea, como em organizações empresariais, na política, nas universidades e nas escolas, respaldado, muitas vezes, pelo mito da meritocracia. O silenciamento branco protege seus participantes em um lugar seguro, onde não há a necessidade de afirmarem ou reverem seus privilégios. Esse silêncio, segundo Sueli Carneiro (2005, p. 115), é uma das táticas mais eficazes de racismo no Brasil, uma vez que omite a existência do problema da discriminação social, problema que atravessa gerações e solidifica cada vez mais a pirâmide hierárquica dos poderes.

Outra tecnologia de silenciamento muito utilizada pela branquitude é a destruição dos nossos arquivos ao longo da história. A partir do trabalho de apagamento das memórias do país, memórias da escravidão, da ditadura, de massacres, para citar alguns dos exemplos, foi-se modelando um Brasil fictício, utópico, para essa branquitude. Ou melhor, um Brasil heterotópico: um lugar dedicado a se opor, a neutralizar, a apagar os lugares demarcados de nossas vidas (Kiffer, 2020), no qual a história, a arte, a cultura e a perspectiva branca passam a ser tratadas como a verídica e dominante, exposta nos museus, divulgada nos jornais, estampada nos livros de história, ensinada nas escolas através das diversas disciplinas.

Portanto, o Brasil se tornou um exemplo bem-sucedido de epistemicídio, ou seja, de ocultação e desqualificação da contribuição do Outro para a história e a intelectualidade do país. O epistemicídio é nada mais nada menos que uma outra representação do silenciamento dos corpos negros e que serve de combustível para a dominação branca. No Brasil, o negro não é apenas impedido de falar, ele tem toda a sua história silenciada e ocultada. Em síntese, a partir dessa discussão, fica evidente a força pulsante e a emergência que há no trabalho de letramento racial realizado em sala de aula pelas professoras Penha Élida e Olívia Melo.

Nessa perspectiva, podemos considerar o projeto “Lembranças à Carolina” como prática efetiva de letramento racial, ainda que não tenha sido planejado explicitamente para esse fim. Na execução do projeto, o letramento literário funciona como via de acesso a um letramento social e racial. Isso acontece não apenas pela tomada de consciência dos alunos a respeito da própria realidade, mas também pelo contato com as diferentes realidades de seus pares e com a lógica que constitui as bases de leitura da realidade social e consequentemente de construção do racismo. Compreender as relações entre diferença racial, segregação e exclusão não implica apenas percebê-las em nível local, mas sim entender os mecanismos de reprodução dessa lógica desde Carolina Maria de Jesus e antes dela.

Anos após o fim da escravidão,
Muitos aspectos mantêm-se inalterados
Já que, mesmo após a Lei Áurea,
Preconceito permanece escancarado
O negro continua a passar sufoco
E sendo descriminado
Tudo devido à dificuldade
Em aceitar a diversidade

[…]

Relatos são marcos
Que não devem ser esquecidos
Cada um tem importância
E Carolina sabia disso
Por isso, escrevia
Por isso, relatava
Sua história de vida
Que para sempre será lembrada

Poema de Maria Fernanda Machado Santos, Rafael de Almeida Prudencio, Rebeca da Silva Paes e Marcelo Gonzalez do Nascimento (p. 36-37)

Estabelecer uma genealogia da produção de uma literatura marginal que desafia a canônica é amparar e fortificar os alicerces de produção da autoria e do protagonismo na produção de conteúdo literário. Por meio desse vínculo de conhecimento da possibilidade de construir e apresentar novas histórias e narrativas, torna-se possível questionar e produzir enunciados que exponham os discursos de dominação epistêmica. A mesma língua que é a base da produção dos discursos segregacionistas e racistas funciona então como meio de subversão dessa lógica.

A língua, por mais poética que possa ser, tem também uma dimensão política de criar, fixar e perpetuar relações de poder e de violência, pois cada palavra que usamos define o lugar de uma identidade. No fundo, através das suas terminologias, a língua informa-nos constantemente de quem é “normal” e quem é que pode representar a “verdadeira condição humana” (Kilomba, 2019, p. 14).

Afirmar identidades e subjetividades contadas em forma de arte e escritas em nome próprio funciona como um ato que transcende o ensino conteudista e se afirma como um ato de formação educacional que é também de emancipação político, social e racial. O combate ao racismo exige posicionamentos contundentes. Dessa forma, “cabe à escola apresentar aos estudantes a diversidade não apenas de textos, de temas, mas também de concepções de mundo, de modos de fazer e dizer” (Almeida, 2017)

COMO DIZIA O POETA

Como já dizia a poeta,
O negro só é livre quando morre
Quando ele morre, há comoção
Mas a justiça é uma negação

E o caso Carrefour?
Aquilo foi uma aberração
Seguranças despreparados
E sem amor no coração

Temos o caso Marielle
Até hoje sem explicação
Será que eles acham piada?
Eles nos devem satisfação

Tudo isso parece novela
Que sempre há reprise
Até quando esse enredo vai ocorrer?

Será preciso outro Luther King nascer?
E, no fim,
Ficam uns questionamentos
Até quando isso vai acontecer?
Quantos precisarão morrer?

Poema de João Alencar, Ícaro Alencar, Álvaro Azevedo dos Santos e João Carlos Rodrigues Maura Rocha (p. 49)

História, Política, Filosofia e Sociologia despertam através do exercício da literatura. Fatos do cotidiano e notícias de jornal são conectados e relacionados através da percepção dos mecanismos que os unem. O projeto alcança assim não só os objetivos a que se propõe, mas também desperta novos sentidos para a prática pedagógica e para o letramento racial. Branquitude, negritude, racismo e segregação não precisam ser tópicos de aula para serem trabalhados ou discutidos. Eles permeiam uma diversidade de temas e constituem as bases de construção de diferentes discursos e realidades sociais.

O DESPEJO É A NOSSA TRAGÉDIA

Oficina de preconceito,
se é preto não é aceito
numa elite só de branco,
Carolina causa espanto
fazendo ode à favela
sem romantizar, sem balela
só poesia nua d’uma vida amarela

sem comunismo, só realismo
pedindo pouco e comendo lixo
dos que vivem no topo endeusando o “mito”,
enquanto o preto morre de tiro.

dizer que é vitimismo é fácil
quero ver ser espancado,
perseguido e chamado de macaco
porque, enquanto branco faz “hashtag”,
mais um preto é morto pelo fardado

Brasil é o país do preconceito
aqui, playboy passa com baseado na mão,
mas, se fosse preto e pobre,
era direto pra prisão,
e ainda dizem que não há discriminação

guerra às drogas põe o jovem pobre no caixão
com esses políticos que não entendem a realidade
com leis e mais leis que não condizem com problemas de verdade.

é tanto racismo e exclusão,
que o preto e favelado
mal tem acesso à escolaridade
é triste saber que dependemos do governo desses animais,
aqui, enquanto uma parte passa fome, a outra pede mais.

dizem que temos os mesmos direitos,
mas sabemos que, no Brasil,
não funciona assim
mesmo que existam aqueles que neguem os problemas sociais,
é como Carolina diz:
as misérias são reais!

Poema de Rafael Ribeiro, Letícia Nunes, Maria Cláudia e Lucas Gabriel (p. 56)

Nas bases foucaultianas do desenvolvimento do processo da escrita de si, o sujeito enfrenta também a realidade de formação das instituições e dos discursos que sustentam a forma como sua identidade é percebida e construída dentro da sociedade. É no processo de escrita que as produções das subjetividades se constituem e novas oportunidades de compreensão das relações raciais e de si mesmo se realizam.

Na parte final do livro (p. 112), o depoimento do estudante Lucas de Azevedo Correia, enviado por mensagem após uma das aulas de leitura coletiva do texto de Carolina Maria de Jesus, mostra o nível de afetação da prática proposta. Mais do que exercício de letramento literário, fica evidente o potencial de estímulo de uma reflexão que parte de uma realidade aparentemente distante em uma esfera temporal e local, mas que pode gerar ecos de empatia e identificação que superam a representatividade e adentram processos psicanalíticos de enfrentamento de processos mentais e emocionais experienciados pelo estudante diante de sua realidade. “Esse livro me quebrou bastante, lembrou de situações que eu enterrei tão fundo em minha mente que eu nem lembrava” (p.112).

O estudante reforça ainda as disparidades de experiências que se refletem na capacidade plena de compreensão da realidade discutida: “Uma pessoa que nunca teve um tipo de contato com alguma das situações (e uma pessoa totalmente sem empatia) vai achar o livro chato e repetitivo. Mas, como já me encontrei em situações como a da Carolina, posso afirmar que essa vida é chata e repetitiva” (p. 112).

Nesse âmbito de afetação dos estudantes conforme a sua própria realidade e experiência, é importante refletir sobre a finalidade do letramento racial. Não se trata de fazer com que todos compreendam ou se coloquem no lugar de alguém, muito menos de gerar ou desenvolver empatia, mas sim de fornecer instrumentos de compreensão dos discursos e lógicas que pautam a criação e a manutenção das relações de poder fundadas na diferença racial. É através dessa compreensão que os discursos e dispositivos podem ser questionados e que o ciclo de reprodução das lógicas de segregação e violência pode ser combatido.

Compreender as formas de leitura do racismo na sociedade por si só não é modo de desmonte do racismo, mas colocar em prática exercícios de questionamento e reflexão a partir dessas formas de leitura pode e deve gerar movimentos antirracistas, como prescreve o Parecer do Conselho Nacional de Educação quando da aprovação da Lei 10639/2003:

Para reeducar as relações étnico-raciais, no Brasil, é necessário fazer emergir as dores e medos que têm sido gerados. É preciso entender que o sucesso de uns tem o preço da marginalização e da desigualdade impostas a outros. E então decidir que sociedade queremos construir daqui para frente (Parecer CNE/CP 003/2004).

Figura 2: Arte de Juliana Pereira, João Romão, Gabriel Lima e Kauã Barbosa de Jesus (p. 49)
Figura 2: Arte de Juliana Pereira, João Romão, Gabriel Lima e Kauã Barbosa de Jesus (p. 49)

As práticas pedagógicas que proporcionam instrumentos para um letramento racial trabalham efetivamente as esferas de formação da identidade, da subjetividade e da compreensão da sociedade e da política. Nesse âmbito tornam-se fundamentais e imprescindíveis, uma vez que o “exercício trabalhado na sala de aula (de letramento racial) pode ser um caminho para que esses indivíduos, que possuem um letramento racial crítico, possam transformar essa conscientização em práticas que venham de encontro à branquitude” (Souta e Jovino, 2019, p. 156).

UMA SITUAÇÃO “COMUM”

A situação no Brasil, é fácil de se entender,
Enquanto uns catam migalhas pra de fome não morrer,
Alguns filhos veem os pais rapidamente adoecer.

Uma mãe de 3 filhos luta diariamente pra vencer.
Diariamente crianças morrem.
“Muito triste, mas é normal!”

Preço da gasolina subiu
“Vamos fazer uma manifestação quase internacional?”
Você se pergunta,
“Onde está tudo isso? Toda essa algazarra?”

A resposta é simples,
É difícil ver a dor da janela da sua casa.

“Onde está toda essa dor?”
O silêncio, sobretudo, é ensurdecedor.

Poema de Bruno Garcia, Breno Oliveira, Rayhan Chamoun e Kayc Rodrigues (p.48).


* Jade de Soares do Nascimento é mestrando em ciência da literatura pelo PPGCL/UFRJ com pós-graduação em educação pela PUC-RS e bacharel cum laude em Direito pela Faculdade Nacional de Direito da UFRJ. Faz parte do grupo de pesquisa em Poesia Contemporânea da UFRJ e publicou seu livro bilingue de poesia Sublime Ideal em 2021.

* Guilherme dos S. Ferreira da Silva é doutorando em ciência da literatura pelo PPGCL/UFRJ. Desenvolve pesquisa sobre poesia negra contemporânea com ênfase no trabalho poético realizado virtualmente por coletivos de slam poesia. Faz parte do Laboratório da Palavra (PACC-UFRJ) e seus últimos textos publicados foram “Eles querem sangue: rompendo estereótipos da poesia negra e periférica” (2023) e “Pode o marginal falar em tempos de pandemia?” (2021).

 

Referências

ALMEIDA, Neide A. de. “Letramento racial: um desafio para todos nós”, Portal Geledés. 2017. Disponível em: https://www.geledes.org.br/letramento-racial-um-desafio-para-todos-nos-por-neide-de-almeida/.

AZEVEDO, Celia Maria Marinho de. Onda negra, medo branco: o negro no imaginário das elites, século XIX. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987

BENTO, Cida. O pacto da branquitude. São Paulo: Cia. das Letras, 2022.

PARECER CNE/CP 003/2004. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. 2004.

CARNEIRO, Sueli. A construção do outro como não-ser como fundamento do ser. São Paulo, USP, 2005. Tese de Doutorado.

GONZALEZ, Lélia. “Racismo e sexismo na cultura brasileira”, Revista Ciências Sociais Hoje, Anpocs, 1984.

KILOMBA, Grada. Memórias da plantação: episódios do racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.

KIFFER, Ana. O Brasil é uma heterotopia. Coleção Pandemia Crítica. São Paulo: n-1, 2020.

MBEMBE, Achille. Necropolítica. São Paulo: n-1, 2016.

MELO, Olivia; PENHA, Élida. Lembranças à Carolina: releituras de um quarto despejado [recurso eletrônico]. Macaé, RJ: [s. n.], 2021.

SOUTA, Mariveta; JOVINO, Ione da Silva. “Letramento racial e educação antirracista nas aulas de língua portuguesa”, Uniletras, v. 41, n. 2, p. 147-166, jul/dez. 2019.

 

Notas

[1] O e-book Lembranças à Carolina: releituras de um quarto despejado está disponível para download gratuito no link: https://portal1.iff.edu.br/nossos-campi/macae/arquivos/livro/lembrancas-a-carolina-releituras-de-um-quarto-despejado.pdf/view.