Ano XV 030201
1º semestre de 2020
editorial
Tempo de leitura estimado: 4 minutos

A ARTE DE ANDAR PELA CIDADE

Publicado logo em seguida a “Modo de ser na cidade em quarentena” (número 1/2020), “A arte de andar pela cidade” forma com o anterior um conjunto sobre os modos de viver na cidade. Enquanto o primeiro número concentrava-se em depoimentos escritos no calor do momento sobre a vida em diversas cidades durante a epidemia de Covid-19, este, publicado quando a pandemia ainda assola o mundo, reúne, principalmente, artigos que versam sobre a relação entre artes e cidade.

O número se inicia de modo especial com uma crônica sobre a quarentena enviada de Pequim por Francisco Foot Hardman, professor titular da Unicamp, e veiculada inicialmente no Jornal da Unicamp. Seu texto é um lembrete poético de que as discussões a seguir ocorrem em ambiente ainda marcado pela pandemia.

O dossiê apresenta uma homenagem ao professor e pesquisador Renato Cordeiro Gomes, autor de Todas as cidades, a cidade (1994), que nos deixou em 5 de setembro de 2019. Três textos versam sobre a cidade e arte, informados pelo olhar e pelas observações de Renato. O primeiro é “Modos de ler a cidade”, de Alexandre Graça Faria, Aline da Silva Novaes e Paulo Roberto Tonani do Patrocínio, cuja forma fragmentada assume as perspectivas daqueles que erram pela cidade. O segundo, “O Rio de Janeiro em Cara de Cavalo”, de Carolina Barcelos, examina o Rio através do teatro que produz “significado urbano”. Finalmente, em “Copacabana, Rio de Janeiro, RJ”, sobre imaginário artístico do bairro carioca, Beatriz Resende reescreve, também em homenagem ao amigo, sua participação no seminário Espécies de Espaço, organizado por Renato e Izabel Margato em 2005.

Os demais artigos do dossiê abordam outros aspectos da relação entre cidade e artes. Em “Notações da cidade no conto ‘Rolézim’”, Leandro Souza Silva discute a construção das subjetividades periféricas na obra de Giovani Martins. “A cidade como autobiografia em Rubem Fonseca e Sérgio Sant’Anna”, de Dejair Martins, fala da cidade como protagonista da ficção dos dois importantes escritores. Por fim, “O A.R.T.E navegando no Mar de Histórias”, escrito coletivamente, descreve oficinas de artes visuais realizadas pelos coletivos A.R.T.E.2 e Mar de Histórias em parceria com a Associação de Moradores da Vila da UFRJ (AMAVILA) a fim de usar a arte como maneira de integrar a comunidade que mora e estuda na Ilha do Fundão.

Publicamos neste número, ainda, o artigo “O assédio sexual no emprego doméstico”, em que a antropóloga Valeria Ribeiro Corossacz apresenta sua pesquisa com trabalhadoras domésticas e sindicalistas sobre o assédio sexual perpetrado pelos empregadores. E “O ceticismo metaficcional de Sebastopol, de Emilio Fraia”, em que Lucas Bandeira de Melo busca situar o romance de Fraia, publicado em 2018, no panorama da literatura brasileira contemporânea.

Finalmente, para discutir a obra do escritor Rubem Fonseca, falecido no último 15 de abril, entrevistamos a professora da PUC-Rio Vera Lúcia Follain de Figueiredo, autora de Os crimes do texto: Rubem Fonseca e a ficção contemporânea (2003). Figueiredo fala da relação de Fonseca com o Rio de Janeiro e com o cinema, além de fazer um apanhado da obra do ficcionista desde os primeiros livros até os mais recentes.

Com esta edição, pretendemos convidar ao leitor a experimentar a arte como dispositivo para percorrer as cidades, esses organismos múltiplos e em constante transformação em que habitamos.

Agradecemos ao fotógrafo Bruno Veiga pela gentil cessão da foto da capa deste volume da revista.

Revista Z Cultural