Território é um conceito em movimento. Embora suas raízes estejam na geografia, ele apresenta uma diversidade de usos e ressignificações tanto no campo geográfico quanto na economia, na antropologia, na ciência política, na sociologia, na psicologia, na zoologia e na etologia, cada qual mobilizada por uma perspectiva específica, na busca de compreender a complexidade do tempo presente, marcado por territorialidades cada vez mais multidimensionais e complexas.
Tratamos, nesta edição, do diálogo essencial entre território e cultura, e, em alguns dos textos, entre território e cibercultura.
Ana Lucia Enne e Marina Dutra focalizam os embates travados, no campo da cultura e das territorialidades, na região portuária carioca;
Luis Antonio Simas trata das culturas oriundas da diáspora africana no pós-abolição da escravatura e, dialogando com o processo que levou ao surgimento do samba carioca, aponta para a possibilidade de o Rio de Janeiro ser entendido como uma cidade de diversas pequenas áfricas, uma delas no bairro de Oswaldo Cruz;
Lia Baron trata do território pela ótica das políticas públicas, reconstituindo iniciativas, na esfera municipal, voltadas ao fomento a ações culturais realizadas nas periferias, favelas, subúrbios e territórios populares da cidade;
Jorge Barbosa e Eliane Costa tratam do fenômeno dos rolezinhos enquanto estratégia de afirmação e compartilhamento de territorialidades urbanas em ciberculturas plurais;
Partindo de iniciativas que tomaram as ruas de São Paulo entre 2011 e 2013, e que culminaram nos protestos de junho de 2013, Rodrigo Savazoni fala de um território híbrido de ação política que mistura redes e ruas.
Uma entrevista com Marcus Vinicus Faustini, idealizador de projetos como o Reperiferia, a Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu e a Agência de Redes para a Juventude, fala sobre as raízes da “virada territorial” que passou a marcar as narrativas de uma geração de projetos culturais que se desenvolvem nas periferias da cidade;
Dani Francisco, ativa produtora cultural da Baixada Fluminense, integrante do Coletivo Roque Pense!, do Ponto de Cultura Lira de Ouro e do Gomeia Galpão Criativo, faz um contraponto entre a potência dos coletivos culturais da região e da inoperância do Estado frente a essa cena;
E, finalmente, temos um recorte textual, uma “escrita remix coletiva” da pesquisa cotidiana que o Norte Comum desenvolve pelos subúrbios e Zona Norte do Rio de Janeiro.
Eliane Costa
Organizadora do dossiê Territórios e territorialidades contemporâneas
Maio de 2016