Ano XVII 01
1º semestre de 2022
entrevista
Tempo de leitura estimado: 18 minutos

A HISTÓRIA DE UMA DIÁSPORA: ENTREVISTA COM YARA NAKAHANDA MONTEIRO

Vitória Queiroz da Fonseca, protagonista de Essa dama bate bué! (Portugal, Guerra e Paz, 2018; Brasil, Todavia, 2021), nasceu 15 de abril de 1978 na província do Huambo, em Angola. O país havia declarado sua independência em 1975, mergulhando em seguida em uma guerra civil que duraria décadas. Como a família de Yara Nakahanda Monteiro, a autora do romance, a de Vitória migra para Portugal quando a menina ainda é pequena, fugindo do conflito, e, como Yara, Vitória retorna a Angola no início dos anos 2000. Lá, a personagem busca o paradeiro de sua mãe, Rosa Chitula, uma das muitas mulheres que pegaram em armas durante a luta pela independência. E, para narrar a jornada dessa mulher que busca reconstruir uma história pessoal e coletiva, Yara encontra uma voz e uma linguagem próprias, em que se misturam o português europeu, o angolano e o umbundo.

Por meio da reconstrução da história de Rosa Chitula, Vitória reconstrói o passado do país, marcado pelo colonialismo e pela guerra civil. Enquanto empreende esse retorno à memória nacional, porém, ela vai aos poucos se identificando com uma Angola contemporânea complexa, que viveu, no início dos anos 2000, um período de reconstrução, em que convivem multinacionais petrolíferas e ONGs, novelas e músicas brasileiras e culinária tradicional angolana, pobreza, violência e prosperidade. Nesse processo, Vitória também reavalia sua identidade enquanto mulher criada em uma família angolana em Portugal, o que abre espaço para que o romance trace um painel complexo das relações étnico-raciais e de gênero angolanas.

Yara Nakahanda Monteiro hoje mora no Alentejo. Formada em Recursos Humanos, área em que trabalhou por quinze anos, a escritora morou no Brasil, onde diz ter descoberto sua negritude e sua africanidade. Além de seu romance de estreia, escreveu o livro de poemas Memórias, aparições, arritmias, publicado pela Companhia das Letras de Portugal e pelo qual ganhou o Prémio Literário Glória de Sant’Anna de 2022. Em entrevista feita em 19 de abril deste ano, Yara falou sobre suas escolhas narrativas e a relação de sua escrita com a memória oral de sua família e sua ancestralidade. 

Beatriz Resende: Eu queria começar pedindo que você falasse sobre você, Yara Nakahanda Monteiro, e sobre o título do livro.

Yara Monteiro: Vamos começar por mim. “Nakahanda”, quem já leu Essa dama bate bué! irá entender, é o nome da minha trisavó. Aliás, aparece na dedicatória do meu romance e é o nome que eu quis adotar para honrar a minha ancestralidade negra. Para quem não sabe, na altura do colonialismo, os nomes tradicionais angolanos, como aqueles em umbundo e quimbundo, não eram permitidos. Portanto, a minha avó, que se chamava Nakahanda, teve que fazer um registro português em que passou a se chamar Beatriz. É interessante, mas bastante triste. Daí eu ter adotado o nome Nakahanda, que eu descobri durante as pesquisas para escrever o meu romance. Muito da informação que adquiri para escrever o romance vem de conversas que tive com a minha avó, neta de Nakahanda. É a ancestralidade que estou a usar. É um nome que, confesso, queria ter usado como pen name desde o início, mas por várias razões não ficou registrado no meu primeiro romance [na edição portuguesa]. Agora eu quero ser conhecida e tratada como Yara Nakahanda Monteiro.

O título do meu livro, Essa dama bate bué!, eu considero que de certa forma é uma ocupação linguística, porque nós temos um conceito de lusofonia e o conceito de lusografia, e também o conceito da oralidade e da literatura. Eu quis fazer uma ocupação linguística, porque “bué” em Portugal é visto como uma linguagem menos culta, como calão, mas na realidade é uma palavra do quimbundo que entrou no dicionário português. Portanto, há aqui uma inversão, por assim dizer, de colonização, ou da influência linguística. O título está relacionado com uma dama muito particular do texto que eu não direi quem é, porque senão irão descobrir, mas recomendo que leiam. E também faz parte de um poema que é dito na narrativa do romance.

Yara Nakahanda Monteiro (Divulgação)
Yara Nakahanda Monteiro (Divulgação)

Maria Caterina Pincherle: Começando pelo romance, o primeiro capítulo, muito breve, é uma apresentação do passado, das recordações, e termina em dois parágrafos bastante curtos. A frase “Chamo-me Vitória Queiroz da Fonseca” me lembrou da “Me llamo Rigoberta Menchú”, ou seja, uma autobiografia de raízes, pessoais e literárias. Não são só as raízes de uma pessoa, mas de uma nação. Então, queria que você comentasse um pouco isso. Quanto há de pessoal nessa personagem e como foi o processo criativo da construção de personagens femininas, dessa personagem principal, mas também das outras.

YM: Eu costumo dizer que o meu livro é cem por cento ficção e cem por cento realidade. E essa mescla está presente logo no início. No primeiro capítulo do livro está presente quando Vitória, que ali é a narradora, diz: “A minha primeira memória é uma árvore; a segunda, uma onda”. A primeira memória da Vitória é a árvore, a primeira memória de Yara Nakahanda Monteiro é onda. É a onda na Praia das Maçãs, em Portugal, a primeira memória que eu tenho. No caminho de criação da personagem Vitória, posso dizer que trancei uma figura imaginária com a minha biografia. Nascemos aproximadamente no mesmo ano, na mesma cidade, regressamos a Luanda mais ou menos na mesma altura. Nós temos bastante semelhanças, que eu acho que foi uma forma de eu conseguir tratar, analisar, exorcizar a minha história pessoal, minha descoberta enquanto mulher, enquanto angolana, enquanto exilada, enquanto uma pessoa que também foi à procura de sua origem, de sua raiz. Mas somos duas pessoas diferentes. Outra coisa que eu acho bastante interessante no processo criativo: há uma cena do livro em que Vitória narra a sua certidão de nascimento e foi baseada na minha certidão de nascimento. Claro que com as devidas alterações e particularidades da personagem.

Em termos do processo criativo das outras personagens, vamos falar agora das personagens femininas… Eu sou uma fã de astrologia e criei não mapas astrais, não sou profissionalizada nessa área, mas perfis psicológicos baseados em mapas astrais que foram para mim sugeridos de acordo com a data, hora e local de nascimento. Isso ajuda bastante a criar as personagens femininas.

E a origem deste livro advém de um livro que eu li, um estudo sociológico chamado Combater duas vezes: Mulheres na luta armada de Angola, da Margarida Paredes, que teve um grande impacto na minha formação como angolana e na minha construção do feminismo africano, porque é um livro que me ajudou a conhecer o contributo da mulher angolana na luta da independência, na luta civil, e a falta do reconhecimento que tiveram quando a guerra chegou. A mãe de Vitória, Rosa Chitula, e a sua companheira de combate, Juliana, foram criadas com base em muitos dos relatos e testemunhos não só deste estudo sociológico, mas também de uma pesquisa que eu fiz com mulheres combatentes da luta armada angolana. Eu quis criar e desenvolver mulheres com capacidade de demonstração da sua força interior, mas que também se encontravam muitas vezes subjugadas ao patriarcado e ao machismo, qual foi a sua luta pessoal de libertação. Temos uma cena, por exemplo, da própria avó de Vitória quando encontrou o vestido de casamento. Temos também uma personagem que eu gosto bastante, Romena. Eu tentei dar várias perspectivas da mulher angolana e da mulher universal e da sua condição, dos seus sonhos e do seu desejo de libertação. Às vezes concretizados, outras vezes não.

BR: O uso da primeira pessoa, nós temos observado, é um recurso muito frequente em autoras mulheres que querem um eu, uma voz autoral forte. Mas você inova até mesmo nisso, porque você vai com essa primeira pessoa até mais ou menos em torno do capítulo vinte e aí não é mais a primeira pessoa. Não é mais um eu falando. Você passa para a terceira pessoa e coloca Vitória como personagem. A gente queria que você falasse um pouco dessa estratégia.

YM: Eu fico feliz que vocês tenham achado a estratégia original. Há leitores que não entendem, que não gostam e criticam. Mas eu vou dar a minha perspectiva porque há uma lógica naquilo que eu fiz. Na realidade, nem foi a necessidade de querer ter uma voz mais autoral ou mais pessoal. Se vocês observarem, se fizerem uma segunda leitura do capítulo mencionado por si, Beatriz, irá reparar no assunto que eu vou tratar. Vitória descobre-se negra. Ela, quando se descobre negra, perde a sua voz porque a mulher negra está na base da hierarquia social. Foi o que eu fiz. Portanto, a cena anterior é quando a Vitória está na casa de banho a cortar o cabelo, portanto o corte do cabelo, juntamente com a cena da morte do pássaro, em termos simbólicos simboliza o fim de um ciclo. O corte de cabelo, principalmente para uma mulher, está relacionado com o processo de transformação interior. E Juliana, quando aparece, diz-lhe o nome nativo, que é Wayula. Portanto, eu queria criar um livro com uma voz mais pessoal, mas, quando estudei o processo de desenvolvimento da voz narrativa, foi esta a sequência que eu lhe quis dar para tornar a transformação mais presente para o leitor. O propósito foi esse: ter alguém a falar por ela, pela mulher negra, para demonstrar o posicionamento fragilizado da mulher negra que Vitória havia se tornado ou descoberto.

MCP: Você falou da voz que narra. E tem o eu que narra e tem outros que narram a vida da Vitória, e ela se descobre também por meio dessas outras vozes. Eu queria saber se tem alguma ligação com a oralidade nesse contar e nesse contar-se, alguma coisa muito africana, esse conto narrado pela voz mesma e não somente na escrita.

YM: O meu livro tem vários narradores, não é só a voz de Vitória.

A oralidade é a literatura mais antiga, já em África, já Aristóteles também o disse. E não é um gênero de literatura menor. Há muito aquela pergunta: “Ah, mas quando é que você começou a ser escritora, Yara?”, e eu costumo dizer: “Olha, eu comecei a escrever quando tinha doze anos”, mas não, depois eu fiz uma reflexão mais profunda e disse: antes de escrever, eu já imaginava histórias, já contava histórias. A escrita é apenas um registro da oralidade. Para mim, isso é bastante importante porque é pela oralidade, pelas histórias da minha família, nomeadamente dos meus avós, dos meus pais, que eu tenho descoberto a minha própria história, a história de uma nação. A história de uma diáspora. O que eu estou a fazer agora é escrevê-la. O meu novo livro de poesia é um livro quase na sua totalidade baseado na oralidade.

Capa de Julia Custodio (Divulgação/Editora Todavia).
Capa de Julia Custodio (Divulgação/Editora Todavia).

MCP: Como foi para você passar da prosa para a poesia? Foi ir além, foi buscar alguma coisa mais profunda, ou foi tirar excesso de palavra?

YM: Foi bastante natural, confesso. Porque eu também sempre escrevi poesia, que, como a Catarina disse, é mais profundo e mais direto, é uma autoestrada ao coração, e era isso que eu precisava para contar as histórias versadas que ali estão.

BR: Essa dama bate bué! é um livro muito corajoso, sob vários pontos de vista. O primeiro mais óbvio é o de denúncia política, de denúncia da corrupção, das relações pós-coloniais, da vida na ex-colônia, da dificuldade dessa África contemporânea. Depois, ele é corajoso como livro de mulher, sobretudo a cena muito intensa de sexo lésbico entre as duas personagens. Porque não é apenas um comportamento, é uma cena muito bonita e muito forte, muito detalhada de amor entre duas mulheres. E a terceira, de que você já falou um pouco, é a língua misturada que você usa. Eu fiquei muito curiosa com como deve ter sido traduzir o seu livro. Mesmo para os leitores do Brasil, ele às vezes é difícil, mas bem ou mal nós estamos mais familiarizadas com algumas dessas palavras, ou com as referências históricas, especialmente mais recentemente, agora que os estudos de literatura africana de língua portuguesa estão mais fortes no Brasil. A Caterina mostrou que há um glossário na edição italiana e em português não e eu acho bom que não tenha. Eu queria que você falasse dessas três formas de ser corajosa criando um romance contemporâneo.

YM: Eu acho que você está assim demasiado generosa comigo, Beatriz. Acho que parti mesmo de uma de uma posição de honestidade, não podemos nos esquecer também que este foi o meu primeiro romance e às vezes o desconhecimento de toda uma matriz, de todo um sistema literário, ajuda-nos, dá-nos liberdade. Sendo o meu primeiro romance, o que eu senti foi uma grande liberdade. Enquanto escrevia, não me passava pela cabeça: “Ah, quero denunciar a escravatura ou a corrupção”, não me passava pela cabeça fazer uma crítica social ou escrever um livro que pudesse ter qualquer caráter panfletário. Eu me preocupei em criar o contexto político, social, econômico e cultural das personagens. Acontecendo a ação em Angola, seria de esperar que eu tivesse que fazer uma tradução literária da perversão que é a pobreza. Não se pode falar de Angola sem se falar de pobreza, sem se falar de desigualdades sociais e desigualdades morais. A minha intenção foi situar as personagens. Inconscientemente poderá ter surgido um questionamento, uma inquietação da minha parte pela injustiça, porque foi algo que me sensibilizava. Algo que voltava sempre quando ia de férias a Angola e me frustrava e eu lidava mal com a minha incapacidade de enfrentar a situação, de mãos atadas para conseguir ajudar as pessoas. Claro que, no nosso dia a dia, cada um de nós tenta fazer algo por quem está mais próximo, mas viver e presenciar, estar dentro de um carro na rua e ter crianças a pedir, é bastante forte. Acho que só quem não consegue ter empatia pelo outro é capaz de ignorar.

E, como é óbvio, também devem ter reparado na questão do patriarcado tão presente na religião cristã, e isto eu senti porque cresci com uma forte educação cristã. O lugar subalternizado da mulher em face ao homem. Portanto, foram questões que acabaram por estar no meu livro porque são inquietações que ainda hoje estão presentes.

Em relação à cena sexual entre Vitória e a Catarina, eu achei uma cena bastante natural. E o que deverá suscitar a reflexão é por que não é natural para o leitor ver uma cena de sexo entre duas mulheres em literatura contemporânea? Este é o problema. Porque não há uma normalização da sexualidade. Quem nós amamos ainda é regulado pelo Estado, pela igreja, pelo outro, pelo vizinho. O vizinho também acha que nos pode dizer quem devemos amar ou não. Na altura em que eu escrevi o livro, recordo-me de ter lido uma notícia no jornal de Angola que falava que as relações entre o mesmo sexo no país eram proibidas, mas isto era uma herança ainda do Estado português. O que eu quis foi naturalizar o amor, o amor entre pessoas do mesmo gênero. Voltando ao processo criativo de desenvolvimento das personagens, eu acho interessante que ninguém me pergunte por que é que eu pus, por exemplo, Vitória estrábica? Perguntam-me: “Por que é que puseste Vitória com uma orientação sexual lésbica?”, mas não me perguntam por que é que eu coloquei Vitória estrábica, e existe uma razão para ela ser estrábica. Eu quis normalizar o amor e naquela altura li esta notícia que me voltou a chocar, porque o amor deve ser livre, não é? E foi só essa a intenção. Normalizar a cena de amor porque, se vocês repararem, se houvesse a possibilidade de mudarem os nomes até pode ser uma relação sexualizada entre um homem e uma mulher.

BR: E o uso da língua?

YM: Ah, a língua misturada! Sim, está misturada e isto faz parte da minha redescoberta da língua da minha região, que é o umbundo. Nasci no Huambo, portanto no Planalto Central. E eu também fiz pesquisas linguísticas e fiz questão de colocar esta minha ancestralidade, esta minha língua muda, porque é uma língua que eu não falo, que eu perdi. Eu faço questão de que esteja sempre presente na minha escrita essa mistura, ou essa lusografia também do calão. Eu gosto muito do calão, da gíria, e ainda ontem falava comparando duas obras que são distantes no tempo: o Luuanda, do [José] Luandino Vieira, que é magnífico, e O sol na cabeça, que é um livro de contos do Geovani [Martins], que também é magnífico nessa inovação criativa do tratamento e da mistura de línguas, de expressões. Porque a língua pertence ao povo, pertence aos falantes, não pertence aos acadêmicos, com todo o respeito.

E a tradução italiana? A Catarina é que pode dizer, mas eu acho que também teve um glossário, a brasileira não.

MCP: Ter um glossário é interessante porque às vezes diz simplesmente: “Mufete, prato típico”, e aí te dá a receita. Outras coisas não. “Loengo, típica fruta angolana”. Ou seja, não diz nada. É só para você saber que é uma fruta e não é uma árvore.

YM: Podia ter o nome científico.

MCP: Não, nome científico de fruta de Angola a gente não saberia de qualquer forma, mas, enfim, é interessante ter o glossário porque a gente repara quantas palavras não estavam em português no original. Por falar em língua, que aqui é uma raiz, eu queria saber das suas raízes. Onde é que estão as suas raízes? São duplas como as raízes da Vitória: Angola e Europa? Você disse que ia para Angola quando era mocinha e ficava revoltada com algumas cenas, mas por outro lado você deve ter encontrado sua família lá.

YM: As minhas raízes são africanas e angolanas. Disso não há dúvida. Mesmo geograficamente distante, eu cresci num apartamento angolano africano, numa família angolana. Foram essas as minhas referências. Agora, não quero me limitar a elas. Daí eu dizer também que as minhas asas são europeias. E, quando me perguntam: “De onde és?”, é sempre uma pergunta bastante complexa para mim, porque eu sinto que já nasci em tantos sítios, eu nasci em Angola, mas também renasci em Portugal. Volto a nascer no Brasil. Isto é que é a globalização, é importante nós termos raízes, saber de onde viemos, mas também não nos limitarmos ao passado. O passado é importante para nos ajudar a fazer um caminho, mas é um risco quando permanecemos lá. E eu vi isso também na minha família: a incapacidade do esquecimento.

BR: E o seu livro de poesia?

YM: Já foi publicado em outubro do ano passado, chama-se Memórias, aparições, arritmias. É um livro muito baseado em histórias contadas, histórias ancestrais contadas pela minha avó, histórias da minha infância, da minha adolescência. Falo do amor da adolescência, falo de algum racismo sofrido durante a minha infância, falo de ecofeminismo. Tem lá um poema que está relacionado com a floresta, como a destruição da natureza está relacionada com a destruição da mulher, com o feminicídio. São similares, não é?


* Beatriz Resende é professora titular da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro e editora da Revista Z Cultural; Maria Caterina Pincherle é professora de Literatura Portuguesa e Brasileira da Faculdade de Letras da Sapienza Università di Roma.