Ao pensarmos, hoje, no ideal da paz nos deparamos com dados oficiais que indicam que desde a Segunda Guerra não se viam tantas mortes causadas por guerras quanto nos últimos anos. Os números são impulsionados por guerras e disputas na Ucrânia, na Palestina e na Etiópia, com participação ou conivência das potências liberais. Neste ano de 2024, a guerra entre Rússia e Ucrânia completa dois anos, o conflito entre Israel e Palestina se estende, envolvendo o Líbano, provocando mortes de civis, mulheres e crianças.
Quando olhamos para dentro de cada país, o panorama não é diferente. Além de guerras civis, há conflitos urbanos e rurais, a hipócrita “guerra às drogas”, além de conflitos culturais que parecem dividir de maneira radical grupos sociais. É difícil acreditar que caminhamos para um tempo de paz, o que torna a busca por ela ainda mais premente.
No entanto, o que significa essa paz que buscamos e qual o papel da cultura na redefinição do que entendemos como paz? A paz que queremos é aquela garantida pelo monopólio estatal da força que mantém os conflitos distributivos intocados, além de adiar a politização das pautas dos setores minorizados – LBTQIAPN+, mulheres, negros, indígenas, trabalhadores precarizados etc? Ou a paz pode ser tratada não apenas como a ausência de guerra, mas como um processo que envolve resistência ativa e a criação de novos mecanismos de resolução de conflitos sob uma abordagem política?
O próximo dossiê da Revista Z Cultural, “Guerra e Paz: Conflitos cotidianos”, pretende abordar os sentidos possíveis dessas duas palavras, assim como de outras do mesmo campo semântico, como justiça, violência, consenso, equilíbrio, estabilidade, ruptura, conflito e reconciliação. Até que ponto guerra e paz são conceitos opostos ou complementares? Como um pode se tornar condição para a existência do outro? Ou como podemos pensar em um cenário de paz que não signifique um consenso coercitivo, mas que acolha o dissenso e o debate aberto de ideias?
O dossiê pretende acolher artigos sobre novos e complexos embates acerca de valores e identidades, abrangendo raça, etnia, religião e gênero, entre outros marcadores socioculturais. No campo das Letras e da Literatura Comparada, esperamos artigos que tratem de manifestações culturais, como a literatura produzida na periferia das grandes cidades, poesia como performance e aspectos de oralidade. Discutiremos a positividade que pode resultar dos conflitos através do pensamento livre, da partilha não hierarquizada do conhecimento como resistência às brutalidades políticas dominantes.
O tema “Guerra e paz”, tendo como impulso os 30 anos do livro Cidade partida, de Zuenir Ventura, aparecerá também com uma preocupação especial com a cidade no Rio de Janeiro, considerando, inclusive, a territorialidade da UFRJ, situada em uma área da cidade marcada por intensos conflitos, incluindo operações policiais frequentes em áreas vulneráveis como o Complexo da Maré.
Acreditamos que o tema “Guerra e Paz” é particularmente pertinente diante do atual cenário global e nacional. Discussões sobre como a cultura aborda temas de conflito, resistência, reconciliação e a busca pela paz são essenciais para entender não apenas o papel da arte e demais fenômenos culturais, mas também como intelectuais, artistas e críticos atuam na formação de uma consciência coletiva que aspire à resolução e ao entendimento mútuo.
Os textos podem ser enviados até o dia 31 de março de 2025 para o e-mail revistazcultural@gmail.com, respeitando-se as normas de publicação da revista.
Equipe da Revista Z Cultural