Ano XVI 0201
artigo
Tempo de leitura estimado: 36 minutos

PODE O MARGINAL FALAR EM TEMPOS DE PANDEMIA?


Introdução

Em meio ao isolamento social, o home office trouxe soluções para uma parte mais beneficiada dos trabalhadores e as aulas online se tornaram realidade para a parcela privilegiada de estudantes. As redes sociais ofereceram diversas vantagens para a sociedade, o uso de ferramentas como Facebook, Instagram e Twitter serviram de suportes para o consumo de cultura, entretenimento e comunicação, e mesmo não se tratando de uma realidade nova, ganharam inéditas força e roupagem ao se adaptarem ao mundo dominado por um vírus.

No período de distanciamento social, muitas práticas de lazer se adaptaram ao virtual, como shows de artistas, encontros com amigos, além dos modos de consumo remodelados. As mídias sociais se tornaram, ainda, o meio mais rápido e fácil para conscientização e informação sobre o coronavírus, além de suporte para expor nossas dúvidas, medos e incertezas sobre esse novo tempo. De certa forma, o digital é o “novo buraco escavado no chão pela explosão. Ele é o bunker onde o homem e a mulher isolados são convidados a se esconder, ao mesmo tempo trincheira, entranhas e paisagem lunar” (Mbembe, 2020, on-line).

A arte também se adaptou. Museus disponibilizaram passeios virtuais por suas galerias, artistas investiram em shows online com uma frequência nunca vista antes, encontros com intelectuais em sites de reuniões virtuais tornaram workshops e palestras, antes realizados presencialmente, novamente possíveis. Mas como se mantêm os cenários de expressões artísticas que lidavam com o público físico em sua manifestação?

Slam das Minas RJ

A expressão poética conhecida como slam é performada a partir da voz e do corpo de poetas, construindo uma batalha com a coparticipação do público. Uma performance transgressora é elaborada em batalhas de rimas feitas por corpos marginais, onde a arte se beneficia da curiosidade presente no público sob a figura abjeta ali disposta como artimanha para a sua propagação. Feito em locais públicos, o slam desperta a curiosidade do povo que passa e não resiste o olhar e a atenção para aquelas vozes. É a partir dessa estratégia que a mensagem de uma minoria se multiplica. No Rio de Janeiro, o slam das minas RJ ocupou ao longo dos seus 3 anos de existência os mais diversos espaços da cidade e pôde ser encontrado nos transportes públicos, em praças ou centros culturais em diferentes bairros e periferias do Rio de Janeiro. Em uma conversa comigo, no ano de 2018, a slammer Andréa Bak[1] relatou a importância dos espaços públicos para a realização das batalhas de slam: “queremos atingir o trabalhador que está voltando do trabalho, o estudante que está voltando da escola, e fazer com que assim a gente roube um pouquinho da sua atenção, levando ele a descobrir o verdadeiro sistema, a partir do nosso corpo e do que a gente fala” (Bak, 2018, p. 24).

Fonte: Página do facebook do slam das minas RJ
Fonte: Página do facebook do slam das minas RJ


Andréa Bak no slam das minas RJ

Os corpos marginais cariocas vêm sendo constantemente apagados ao longo da história, e coletivos como o Slam das Minas RJ abrem espaço para a proliferação dessas vozes pela cidade. As batalhas de slam são momentos de reuniões de corpos dissidentes que trocam experiências, manifestam seus sentimentos e desejos, e tecem estratégias de enfretamento e luta contra o sistema opressor do Estado. Essas reuniões possibilitam a ocupação de espaços que sempre foram negados aos marginalizados, uma chance de falar mais alto que a voz que a tenta calar. Sobre a arte produzida pelo Slam das Minas, Conceição Evaristo esclarece que através do slam produzido pelos corpos femininos surge uma expressão provocada por um discurso que “precisa e busca expor as incertezas, as injustiças, o enfrentamento do dia a dia do povo. Uma linguagem para contar em versos, as malesas, as incertezas e, também, para celebrar as alegrias de quem tem pouco ou nenhum espaço para dizer” (Evaristo, 2019, p.14). Mas como tornar possível a continuidade ativa dessa expressão artístico-política em tempos de covid-19? Como tática para permanecer na ativa durante a pandemia, o Slam das Minas RJ criou a “Quarentena Poética”, projeto que buscou levar para o público, a partir das redes sociais, um vídeo de slam diferente por dia, ao longo de três meses.

Quarentena Poética

A partir de sua conta com mais de 16 mil seguidores no Instagram (@slamdasminasrj), o slam das minas RJ iniciou o projeto “Quarentena Poética”, que junto de lives e batalhas ao vivo tornou possível a continuidade do trabalho do movimento artístico carioca no período de isolamento social. A “Quarentena Poética” consistiu na publicação diária de pequenos vídeos, postados na plataforma IGTV dentro da rede social Instagram, gravados por poetas de suas casas. Os vídeos seguem, na grande maioria, os mesmos padrões estabelecidos em batalhas de slam das minas convencionais, como exemplo, declamações que giram em torno de um a três minutos, sem uso de adornos, sem edições ou cortes, com a participação de poetas mulheres cis ou trans, homens trans e pessoas não binárias, agêneros, transmasculines e transfeminines[2]. Os vídeos, que iam desde poemas já conhecidos pelo público e outros lançados especialmente no projeto, eram postados diariamente por meio de um revezamento entre poetas regulares do slam das minas RJ (Andréa Bak, Gênesis, Mota Tai, Rainha do Verso e Tom) e poetas convidades, somando 88 poemas ao longo de três meses, de 16 de março até 11 de junho.

Buscando compreender a importância que há na produção poética marginal em tempos de pandemia, passei a analisar as estratégias usadas pelo Slam das Minas RJ para manter suas vozes ecoando nesse período em que, aqueles que detêm o poder, usam de todas as tecnologias para apagar a identidade de corpos subalternos. Ao longo de três meses do projeto, poetas expuseram seus sentimentos mais profundos, suas conquistas, pequenas alegrias, angústias e incertezas, e um desejo ardente de revolta e revolução; narrando o cotidiano subalterno em tempos de pandemia e denunciando velhos e novos projetos de extermínio instaurado contra o corpo marginal no ano de 2020.

Historicamente, os movimentos de rua cumpriram esse papel de revelar os problemas de um governo e lutar por mudanças: basta lembrarmos das gigantescas manifestações após a morte de Marielle Franco em 2018, as passeatas pela educação em 2019 ou os recentes protestos antirracistas e antifascistas em 2020. A arte sempre foi uma forma de conhecimento do mundo e a poesia produzida pelo slam das minas RJ, com suas dimensões menores, possui maior poder de flexibilidade e pode ser produzida em um período curto, estando, assim, adaptável aos temas e problemas do seu tempo. Fez-se possível, portanto, que notícias que saíram ao longo do isolamento pudessem ser abordadas no projeto, trazendo reflexões sobre a dessensibilização contra a vida do outro, além de propor formas de combate a necropolítica fortemente consolidada na cidade carioca durante a pandemia. O slam das minas RJ, a partir do projeto na rede social, encontrou uma solução para prosseguir espalhando arte e poesia em tempos turvos, caminho construtivo, se pensarmos que a invisibilização do corpo subalterno lança pessoas para fora da condição humana, onde a arte e a literatura se tornam importantes ao dar linguagem a esse trauma tão profundo e difícil de articular (Kilomba, 2020).

“Proteção é utopia”

Pesquisas comprovaram que, em meio à pandemia instaurada no Brasil, as mortes por covid-19 cresceram mais entre a população negra que entre a branca. Dados do governo, divulgados no mês de maio de 2020 pelo Ministério da Saúde apontaram que, em 4 semanas, mortes de pretos subiram de 32,8% para 54,8%. Na cidade do Rio de Janeiro, os bairros que acumulam maior número de pretos acumularam também mais mortes. Campo Grande (Zona Oeste carioca), bairro com 50% de sua população composta por negros, em abril já havia ultrapassado Copacabana (Zona Sul), bairro de classe média-alta que antes ocupava o topo do ranking de mortes pelo novo coronavírus. A pandemia não é democrática. Ao passo que Pamela Carvalho (2020) explicava que a pandemia da desigualdade nos forçou a ver que a morte e a vida têm valores diferentes de acordo com a origem e raça de quem vive e quem morre, a slammer Bione mandava a real nas últimas estrofes do slam “Gravando de dentro de casa enquanto minha mãe não está nela”:

Quarentena é privilégio
proteção é utopia
pra quem pega busão
metrô ou a fila da padaria.
Pra quem não tem água em casa
quem trabalha todo dia
já que não vai ser paga sozinha
a conta de energia.

E tá faltando energia
pra quem vive cheio de fé
pois pegar a pandemia
é coisa que ninguém quer.
E em meio a desigualdade
a minha indicação é
quem tem como: fica em casa
quem não tem:
que se proteja como puder.
axé.

Bione (dia 28)[3]

“A bala sempre acerta um sujeito”

“…E não é qualquer de qualquer jeito, sempre acerta um preto” (Shaira, 2020)[4]. A slammer Shaira evidencia em seus versos a dura realidade que o preto favelado enfrenta diariamente, e nas periferias do Rio de Janeiro a situação da pandemia é duplamente difícil. Existe uma angústia gerada nesses corpos dos riscos causados à saúde pelo novo vírus e da necessidade de lidar com condições precárias para obedecer às ordens de isolamento social, levando em conta as questões como saneamento básico insalubre, escassez de água (o que impede a higienização adequada contra o vírus), carência de itens básicos para alimentação e limpeza, superlotação nas casas de família e falta de emprego (muitos membros dessas famílias perderam seus trabalhos ou os exerciam de maneira informal). Além disso, os moradores das favelas cariocas enfrentavam o medo de morrer nas mãos da força policial, que mesmo em meio à pandemia, não dava trégua e seguia cumprindo o exercício do biopoder, ou seja, sua licença para matar (Mbembe, 2016).

No ano de 2020, o Rio de Janeiro teve o maior número de mortes por policiais em 22 anos, 741 mortes apenas nos cinco primeiros meses do ano, sendo 78% dessas mortes de pessoas pretas e pardas. No dia 18 de maio de 2020, João Pedro, menino de 14 anos, foi baleado enquanto brincava no quintal da casa do seu tio, durante uma ação policial na favela da Mangueira em São Gonçalo.[5] A notícia da morte do menino só foi notificada no dia seguinte. A vida negra não importa, o corpo periférico não vale nada, João Pedro foi morto, teve sua casa invadida, sua vida abatida, seu corpo levado sem o consentimento ou ciência de seus familiares. Não podemos esquecer das outras crianças assassinadas em 2020 nas favelas, como Ana Carolina (8 anos), João Vitor (14 anos), Luiz Antonio (14 anos), Kauã Vitor (11 anos). Quando a violência nas comunidades tira a vida de uma criança, ela mutila violentamente todo um povo. Andréa Bak descarrega essa dor nos primeiros versos do seu poema “A bala”:

Eu senti
Senti a bala
A bala com a criança
Senti a bala na criança
A bala que a mãe sentiu
Sentimos
E a favela gritou.

Andréa Bak (dia 13)

No dia 20 de maio de 2020, durante uma ação social de entrega de cestas básicas às famílias carentes na Cidade Deus, outro jovem foi morto pela PM. João Vitor, de 18 anos, foi baleado e morto na frente dos moradores. O educador e conselheiro tutelar, presente no momento da ação, Jota Marques, comentou nas redes sociais: “Estamos cansados. A gente não tem direito de entregar comida, a gente não tem direito a cuidar dos nossos. A gente não tem direito a nada”; e em seu slam Tom Grito desabafou sobre a morte de mais um jovem pela mão do estado[6]:

A justificativa da polícia é que eram criminosos e vendiam plantas proibidas.
As famílias negam, os coletivos testemunham.
Criminalização da solidariedade na pandemia.

Tom Grito (Dia 77)

O Estado fecha os olhos para a população periférica, o governo impede que esse povo ajude os seus, a pátria amada mata sem pena. Para David Harvey (2020), vivemos uma epidemia que exibe todas as características de uma pandemia de classe, gênero e raça, sendo o novo coronavírus apenas uma nova tecnologia que os órgãos responsáveis pela segurança no país usam para auxiliar o extermínio da população pobre, preta e favelada, acarretando numa limpeza étnica daqueles que dependem de assistência pública para sobreviver (Castro, 2020).

A bala perdida do estado
Não se perdeu
A bala disparada pelo feitor
Se alojou
A bala mirada exterminou
A bala abateu
E não foi sem querer
sem um porquê
A bala sempre acerta um sujeito
E não é qualquer
De qualquer jeito
Sempre acerta um preto
João Pedro
Cheio de sonhos interrompidos por homicidas
Pelo ódio do estado e dos policiais genocidas
E não é coincidência NÃO
É projeto de higienização
De um país desgovernado
Pobre
Pobre de nós
Os descartados dessa nação.

Shaira (dia 80)

“O Brasil virou uma República fascista militar”

Desde o início da epidemia no Brasil, o presidente Bolsonaro se mostrava contra a suspenção dos setores não essenciais, além de um menosprezo pelas milhares de mortes de brasileiros pela doença. Enquanto o Brasil alcançava posições cada vez mais altas entre os países com maiores números de casos de coronavírus, o presidente debochava em entrevistas: “E daí? Quer que eu faça o que? Eu sou o Messias, mas não faço milagre”. Em outro momento, mesmo sem qualquer eficácia comprovada, Bolsonaro insistia na produção massiva de cloroquina e zombava: “Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda toma tubaína”[7].

Em diversas ocasiões, o líder de atitudes genocidas se mostrava despreocupado com a saúde da população, seja em seu discurso ou por meio de encorajamento para que seus eleitores fossem às ruas em passeatas em seu apoio, participando em muitas delas e chegando a interagir fisicamente com os eleitores. Enquanto fazia piada com as mortes do seu povo, Bolsonaro se mostrava disposto a adotar medidas provisórias em apoio aos empresários e contra o trabalhador, como exemplo da tentativa com a MPV 936/2020, que flexibilizava a redução proporcional de jornada de trabalho e de salário, e a suspensão temporária do contrato de trabalho. Ações que comprovavam que um Estado igual ao nosso não é apenas gestor da morte, mas também ator contínuo de sua própria catástrofe e cultivador de sua própria explosão (Saflate, 2020).

No dia 28 de maio de 2020, George Floyd, trabalhador preto, foi morto nos Estados Unidos por um policial que manteve o joelho sobre seu pescoço por mais de oito minutos. O crime gerou uma mobilização no país, levando milhares de manifestantes para as ruas norte-americanas para lutarem pelas vidas pretas. Uma revolução histórica se instaurou ao longo do último final de semana de maio, onde a delegacia em que o assassino trabalhava ardeu em chamas e o presidente Donald Trump precisou se esconder em um bunker enquanto manifestantes ocupavam a entrada da Casa Branca.

Manifestação antirracista no RJ em junho de 2020 / Fonte: Ricardo Moraes/Reuters
Manifestação antirracista no RJ em junho de 2020 / Fonte: Ricardo Moraes/Reuters

A fagulha chegou no Brasil e, no domingo do dia 31 de maio, brasileiros foram para as ruas manifestar-se a favor da democracia e contra o extermínio policial. No Rio de Janeiro um policial apontou um fuzil para um jovem preto desarmado, enquanto no Estado vizinho, em São Paulo, a PM escoltou tranquilamente uma mulher branca bolsonarista com um taco de beisebol nas mãos.  No domingo pela manhã, Bolsonaro participou de um ato a a favor de si mesmo, cavalgando entre a multidão sem máscara e cumprimentando seus apoiadores, que entre suas reivindicações pediam o fim da quarentena e a reabertura dos negócios.  Enquanto o presidente debochava da fragilidade da população e passava por cima de recomendações médicas (e até de seus próprios ministros), o povo preto lutava pelo simples direito à vida, e junto do povo estava a slammer Carmen Kemoly; expondo sua verdade para que todos pudessem ouvir nos versos do seu poema “Pandemônio”:

O Brasil virou uma República Fascista Militar
Povo preto, vamos raciocinar
Se não é o nós por nós que têm nos mantido vivos
Da cultura periférica à agricultura familiar
Presta bem atenção nessa Nano, Biotecnologia
E depois tu vem me dizer
Se esse negócio de vírus e vacina
Num é golpe pra nos robotizar
Mas quem é que luta não estando presente?
E já ceifaram a vida de tanta gente
Gritamos Cláudia Presente, João Pedro, Ágatha, Marielle Presente
E enquanto eu escrevia essa poesia
Miguel foi morto pela patroa de sua mãe, Sinhazinha, Racista e Negligente
Não vai sobrar nem a cor da minha gente
Pra identificar que essas cenas, essas cenas não são de suspense
É gente da minha gente, é vida real
Mas pra eles nós nunca nem fomos gente, é surreal!

Carmen Kemoly (dia 84)

“Quarentena é privilégio”

Por que o entregador de comida ainda está trabalhando mesmo que isso cause mais riscos de contato com vírus do que alguém que recebe a comida por encomenda? Para Judith Buttler (2020), relações de poder como essa tornam evidente as diferenças raciais e geopolíticas do sofrimento que ficam ainda mais evidenciadas com o vírus. Esses mesmos empresários que protegeram o presidente e gritaram a plenos pulmões pelo fim da quarentena, são aqueles que não se importam com os pobres, não enxergam os subalternos como humanos, e sim como máquinas, números, burros de carga. A classe média bolsonarista que participou desses movimentos negacionistas não se importa com a dor dos outros, porque é ela quem causa a dor no outro. Rainha do Verso evidencia realidade do trabalhador em seu slam “trabalhador levanta de madrugada”, a slammer narra a relação de poder entre o empregado e o patrão, denunciando condições de trabalho que beiram a escravidão, realidade de inúmeros subalternos que enfrentam problemas de locomoção na cidade para servir um discípulo de senhor de engenho na zona sul, que não aceita liberar o funcionário durante a pandemia, mesmo que isso possa custar uma vida. Ao mesmo tempo em que o homem branco desce de seu apartamento na zona sul para fazer sua caminhada matinal em meio à pandemia, o preto entregador de comida carrega seu fardo sobre as costas, trabalhando para sustentar a si e a sua família. Não existe escolha para o periférico, é enfrentar a doença ou perder o emprego, a pandemia intensifica a luta que contrastam o capitalismo e suas desigualdades sistêmicas (Butler, 2020).

Patrão passa férias na gringa
E passa pra favela
O vírus do mal
É muito alto pra nós
O preço que se paga pela moral
Quarentena é privilégio
Pra quem tem como pagar
Pobre apenas entrega pra Deus
porque a sua cura é trabalhar.

Rainha do Verso (dia 11)

“O Brasil não tem presidente!”

Na pandemia do covid-19, Bolsonaro encontrou a oportunidade perfeita de exercer a “Política do Choque” estudada por Naomi Klein (2017, on-line). Segundo essa autora, a “Política do Choque” é uma tática brutal e recorrente, usada por governos de direita:

Após um episódio chocante, como uma guerra, um golpe, um atentado terrorista, uma crise do mercado, um desastre natural, eles exploram a desorientação do público para suspender a democracia e implementar políticas radicais para enriquecer os mais ricos às custas dos mais pobres (Klein, 2017).

Se engana quem pensa que só agora Bolsonaro começou a trabalhar com essa artimanha; toda sua trajetória no mandato foi orientada por meio do caos, mas a pandemia mundial instaurada em 2020 criou o solo perfeito para que suas inúmeras tentativas se tornassem bem-sucedidas. Entre os princípios para enfrentar a “Política do Choque“, observa-se a necessidade de saber o que está por vir.

No começo de 2020, o ex-secretário da cultura, Roberto Alvin, reproduziu uma fala nazista em um vídeo para as redes sociais e já não é de hoje que o presidente inflama manifestações que pedem o AI-5, intervenção militar ou fechamento do congresso. Em maio, em uma live para suas redes sociais, Bolsonaro bebeu um copo de leite (prática que já vem sendo adotada por diversos movimentos neonazistas para simbolizar uma tal “supremacia branca”), mas é claro que o surgimento de tantos símbolos que flertam com ideologias supremacistas poderia ser apenas uma coincidência vinda de um governo e um líder que já fez diversos discursos racistas publicamente, mas será?

Da mesma forma, em manifestações pró-Bolsonaro já não é mais raro encontrar apoiadores com bandeiras e cartazes que fazem apologia ao neonazismo, sem demonstrar sinais de intimidação. À medida que isso acontece, fica cada vez mais evidente a hostilidade do presidente e seus simpatizantes com a imprensa, descredibilizando e ofendendo jornalistas a cada oportunidade, estimulando os atos violentos por parte de seus seguidores, que passaram a linchar e agredir jornalistas durante manifestações. Em tempos onde a liberdade de expressão caminha cada dia por uma linha mais tênue, Luiza Ramão publica o slam-manifesto “Quarentena: um devaneio-dúvida-indagação” denunciando as atitudes e decisões tomadas por Bolsonaro. Precisamos nos manter atentos a essas mensagens para quando chegar o momento, não sermos pegos de surpresa.

Porque óbvio: o brasil não tem presidente.
porque um homem que menospreza e ri da morte de dezenas de milhares de brasileiros não pode ser presidente.
um homem que autoriza a devastação da maior floresta do mundo enquanto o país desmorona na pandemia não pode ser presidente.
um homem que não propõe uma medida de contensão da doença e despede dois ministros da saúde não pode ser presidente.
um homem que tenta a todo custo enfiar goela abaixo, por interesses financeiros, um remédio que a ciência já vetou, não pode ser presidente.
um homem que patrocina a milícia, que manipula a polícia federal e protege seus filhos com recursos públicos não pode ser presidente.
um homem que faz apologia à tortura, à supremacia branca, ao estupro, à violência contra a mulher e à homofobia.
um homem que ameaça fechar o STF, o Congresso, o Senado.
um homem que se elege através de fakenews, robôs e perfis falsos:
não pode ser presidente.

Luiza Romão (dia 87)

“Depois de abrir sua mente, abre sua boca”

O último ponto da doutrina do choque debatida por Klein aponta a necessidade em propor uma alternativa ousada, em que devemos atacar a raiz dessas crises que se tornam cada vez mais frequentes, propondo e lutando por novos modelos, baseados na justiça racial, econômica e de gênero. A partir dessa definição, torna-se claro o papel e a importância do slam das minas RJ na luta contra a invisibilização dos corpos que não importam.

Através dos slams publicados durante a “quarentena poética”, artistas expuseram a verdade grotesca que dominaram a política brasileira durante a pandemia, e propuseram modelos de intervenção; convidando as centenas de milhares de pessoas que as acompanham pelas redes sociais a participar de uma luta onde não existe isenção, ou você está disposta a abrir a porta ou você não se importa. O slam das minas RJ juntou mais de 40 vozes, que chegaram a alcançar mais de três mil pessoas em um único vídeo. São gritos ecoando de um grupo que está se preparando para arrombar a porta.

Mas como impedir que algo pior aconteça? Para Grada Kilomba (2020), precisamos construir uma nova linguagem, revendo nossos vocabulários e imagens, isso, porém, só é possível quando as estruturas do poder são transformadas, quando a população afro-brasileira ganha acesso às estruturas e às posições de poder. Para impedir o que está por vir e provocar as transformações necessárias, precisamos ouvir alertas como o da Andréa Bak, que no slam “Cara abre a porta”, ordena:

Cara abre a porta!
Abre a porta
Abre a porta desse território que se chama Brasil
Vê o que tá acontecendo na América Latina
Vê o que tá acontecendo na Europa
Por que o Brasil tá silencioso, calado?
Não tá acontecendo nenhum derramamento de petróleo invadindo mais de 10 estados destruindo o nosso mar?
Não acabou a destruição de mais de 80 por cento da Amazônia não?
Não tá sendo dizimado o pouco de terra indígena que sobrou?
Não tem gente na Cidade de Deus tendo a casa invadida às 8 horas da manhã por um policial que empurra a porta antes de perguntar se tem gente em casa?
Não tá acontecendo nada não?
Por que o Brasil tá assim?
Por que o Brasil tá calado?
Tá tudo bem? Tá tudo normal?
Abre a porta
Depois de abrir a porta abre seu olho
Depois de abrir seu olho abre sua mente
Depois de abrir sua mente abre sua boca
Levanta dessa cadeira
E vai pra rua fazer alguma coisa.

Andréa Bak (dia 81)

O que você quer ver?

Quando se está exposto diariamente às agressões vindas de todos os lados, é impossível não sair ferido de alguma forma. Ninguém tem superpoderes, escudo de aço ou pele impenetrável. Como se manter forte fisicamente e mentalmente na luta diária contra a invisibilização do seu corpo e sua voz? Durante todo o período de projeto, o slam das minas RJ contribuiu com o debate de estratégias de combate e enfrentamento; e denunciou as inúmeras violências cometidas contra os corpos subalternos. Porém, ativistas marginais estão cansados de tomarem, sozinhos, a frente de batalha para serem agredidos, presos, mortos. Artistas marginais estão cansados de serem chamados para preencher uma “pauta política” quando marcas, mídias ou influencers querem lucrar e lacrar com bandeiras de black lives matters. Atores pretos não querem ter os seus repertórios reduzidos a papéis de empregados ou histórias sobre racismo e escravidão, pintores subalternos não querem só botar na tela suas lágrimas de dor, assim como slammers não querem ter que sangrar para receberem aplausos. Afinal, já dizia Allan da Rosa (2016, on-line): “Miséria populista é escrever apenas pra agradar. Tentação já tradicional da arte preta, compreensível de sul a norte após a escravidão oficial, é se enrugar e ressecar no chavão militante”.

O que vocês querem ver? Sangue!
O que vocês querem ver? Sangue!
Estamos condicionados, direcionados a falar sobre as dores.
Enumeradas e aplaudidas pelos jurados, pelo público ou pela pessoa que te contratou.
Engana-se quem acha que estou reclamando dos sistemas das notas

tô falando que é foda sangrar 3 minutos toda hora.
Vocês devem tá de sacanagem?

Porra, eu nem me via em nada, até acreditar que somos a movimentação, ação dessa geração.

Preparando, adubando o terreno para verdadeira reparação.

Moto Tai (dia 83)[8]

“No dia que uma poesia de amor ganhar…”

Em íntimo contato com os poemas dispostos na “Quarentena poética” nos esbarramos com uma rica e heterogênea produção artística nas letras dos poemas que afloram das mais diversas cenas, como a violência policial, irregularidades do governo, luto, dificuldades do isolamento, agressão à mulher, trabalhos precários. Mas também da liberdade do corpo feminino, sexo, a beleza do corpo preto, o poder da poesia, autoconhecimento e em proporção grandiosa, o amor.

Os poemas de slam nasceram e cresceram na luta contra a invisibilização dos corpos que não importam; e nessa luta, está o desejo de compartilhar todos o seu repertório através da expressão artística. Das 88 produções publicadas no projeto, grande parte dialogava diretamente com o discurso do amor, presenteando os seguidores com versos que abordavam desde o culto da paixão de Anaya em “nenhuma predefinição é bem-vinda”:

Te completo, te divido
saiu nas cartas
traçado destino
e no final ainda vai ser sobre eu e você.
Um beijo.

Anaya (dia 24)

A saudade de Moto Tai nos versos de “Eu queria te abraçar e abracei o travesseiro”:

Eu queria te abraçar e abracei o travesseiro.
Queria te tocar e me toquei de fora para dentro
pensando nos seus dedos.

Gozei no silêncio, no vazio.
E sabia que se fosse com você,
seria imensidão de sensações
da galáxia de prazer que tem em nós.

Moto Tai (dia 15)

 

Até as desilusões da Bak em “Como que cê diz que me ama assim?”:

Escutei para tentar te entender
Escrevi, gritei, falei pra você me compreender
Mas o teu limite da mente não tinha passagem
Estagnado, limitado só via barragem.

Andréa Bak (dia 05)

Mas por que criações com essas abordagens são apagadas ou desvalorizadas, muitas vezes dentro do próprio ambiente de slam? Renata Lopes evidencia o esvaziamento que ocorre na recepção das produções marginais ao dizer que o silenciamento ligado à produção de arte afro-brasileira é a compreensão de que “o pensamento ocidental ora invalida, ora atribui novos significados a tradições e epistemologias que coexistem com ele, deslocando esses sistemas de conhecimento para uma posição marginal dentro de sua construção narrativa” (Lopes, 2016, p. 45).

Quando Grada Kilomba (2020) fala da necessidade em mudar as estruturas, ela não diz apenas do sistema político, mas também das nossas atitudes e do que tomamos como verdade absoluta. Existe uma necessidade urgente em acabar com visões reducionistas do trabalho realizado por artistas subalternos. A identidade marginal é apagada não apenas quando a polícia mata ao invadir favelas e mirar no primeiro preto que encontra, ou quando o governo, intencionalmente, priva o povo periférico do acesso a educação e saúde. Estamos todos sujeitos a praticar a invisibilização marginal no nosso dia a dia.

E no auge do seu privilégio, quanta literatura vinda da margem você tem na sua estante ou no seu kindle? E nas suas playlists do celular, toca música produzida por preto? Nós invisiblizamos o corpo subalterno toda vez que aprisionamos um artista marginal em caixinhas vedadas e separadas; onde só acessamos a produção dessa turma para preencher uma necessidade de se fazer parte de um movimento social (porque é legal, até certo ponto, ser militante). Mas não adianta vir levantar seu cartaz de “vidas negras importam” ou estilizar suas redes sociais com efeitos chamativos e chocantes. Não adianta, porque se você não está disposto a dar espaço para artistas marginalizados narrarem seus projetos, alegrias e amores (também naqueles momentos em que tudo está aparentemente bem) e vibrar juntos as suas conquistas; então você é apenas um número ocupando espaço e brincando de militar, e na nossa luta nós não precisamos dessa gente. Com a “Quarentena Poética”, o slam das minas RJ fez um convite aberto para aqueles que desejam, verdadeiramente, vibrar a luta marginal, celebrar o amor dos corpos subalternos livres de preconceito e gritar junto quando tentarem nos silenciar, porque um marginal só aceitará ser calado quando for para beijar, e no slam “Bicho pegando, clima quente, quase 2 da manhã”, Agnes María já mandou a dela:

O nosso movimento é negro, minha preta, por isso te beijo em praça pública
seguro tua mão firme na rua e com os pés no chão tocamos a lua
Com direito a clique da Bleia para eternizar
Eu agarrada em ti, paro de te beijar
Te encaro e confesso que não quero soltar
E tu pede pra eu não soltar
E jeito que cê fala faz eu me arrepiar.

Agnes María (dia 37)

Conclusão

A “Quarentena Poética” foi uma estratégia brilhante e eficaz de manter o trabalho, realizado ao longo dos últimos três anos pelo slam das minas RJ nos mais diversos espaços da cidade, ativo durante o período de isolamento social. A iniciativa realizada através de uma rede social, tornou possível o encontro de mais de 40 poetas com o numeroso público do slam das minas no Instagram; proporcionando trocas de experiências, relatos e o desabafo de quem diariamente luta contra o apagamento de sua identidade, além de servir como canal de denúncia contra os diversos ataques cometidos contra a população periférica, que se intensificaram com a chegada da pandemia.

A autora Silvia Federici relata o medo muito presente nos movimentos artístico-políticos, de que os detentores do poder “se utilizem da pandemia, do nosso medo de morrer (que é muito forte, muito legítimo) para continuar nos isolando e desmantelando nossos protestos” (Federici, 2020, on-line). Projetos como a “Quarentena Poética” são importantes armas de combate contra essas tentativas de destruição de propostas e protestos realizados por corpos marginais, visto que, a partir do compartilhamento de ideias, vivências e mecanismos de pertencimento, é possível unir e fortalecer um grupo que está disposto a lutar.

A “Quarentena Poética” trouxe ainda uma importante reflexão sobre como a arte produzida por corpos subalternos é reduzida a uma única perspectiva, esvaziando todos as outras possibilidades de produção artística dessas vozes. Para participar efetivamente de um combate contra a invisibilização dos corpos marginais, é importante não apenas enxergar os mecanismos usados pelo governo para exterminar a população marginalizada, mas também dar chances para que esses corpos ocupem todos os espaços que historicamente lhes foi negado, seja para clamar por revolução ou para recitar todo seu amor. Porque o coronavírus é só mais um forma de matar desenfreadamente corpos subalternos, e em tempos obscuros é importante entender que nesse sistema opressor somos substituíveis e por isso precisamos nos apoiar, para que possamos lutar, juntes mais essa luta, resistir, viver e, depois de tudo isso, seguir batalhando (O. César, 2020).

O slam das minas RJ criou um veículo onde estará disponível, para quem quiser ver e para que as próximas gerações possam ver, os relatos de artistas marginais sobre esse momento histórico no Brasil, expondo as declarações políticas que flertaram com o fascismo e o racismo e os inúmeros projetos políticos destinados ao apagamento do corpo subalterno durante a pandemia do coronavírus no Brasil. Ficará assim fixada a ação da juventude ativista que não compactuou com esse governo e lutou bravamente contra ele.


* Guilherme dos S. Ferreira da Silva é mestrando em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, e atualmente, pesquisa sobre produção poética negra e periférica na luta contra a invisibilização dos corpos marginais na cidade do Rio de Janeiro.

 

Slams citados ao longo do artigo:

AGNES MARÍA. Bicho pegando, clima quente, quase 2 da manhã. 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/B_NKBgdp-co/. Acesso em 20 de junho de 2020.

ANAYA. Nenhuma predefinição é bem-vinda. 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/B-vAyBEpsWe/. Acesso em 10 junho de 2020.

BAK, Andréa. A bala. 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/B-SKm7IJ4HM/. Acesso em 18 Junho de 2020.

BAK, Andrea. Cara abre a porta. 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CBBTUJsJF5T/. Acesso em: 20 junho de 2020.

BAK, Andréa. Como que cê diz que me ama assim. 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/B99XXBlJ2yL/. Acesso em 20 maio de 2020.

BIOME. Gravando de dentro de casa enquanto minha mãe não tá nela. 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/B-4sbTcJT0y/. Acesso em 20 junho de 2020.

KEMOLY, Carmen. Pandemônio. 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CBJWCUppxbs/. Acesso em 18 junho de 2020.

MOTO TAI. Eu queria te abraçar e abracei o travesseiro. 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/B-XV0gUpopZ/. Acesso em 20 maio de 2020.

MOTO TAI. O que vocês querem ver?. 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CBG-ay3pGbv/. Acesso em 20 de maio de 2020.

RAINHA DO VERSO. Trabalhador levanta de madrugada. 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/B-M9xxHp5e5/. Acesso em 25 maio de 2020.

RAMÃO, Luiza. Quarentena: um devaneio-dúvida-indagação. 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CBRsDc0J0VX/. Acesso em 20 junho de 2020.

SHAIRA. A bala perdida do estado não se perdeu. 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CA_A__oJjWz/. Acesso em: 22 junho de 2020.

TOM GRITO. Meu amigo cozinheiro postou a foto de uma receita no facebook. 2020. Disponível em: https://www.instagram.com/p/CA3Es0sJZtz/. Acesso em 29 junho de 2020.

Referências

BAK, Andréa. Entrevista. In: SILVA, Guilherme F. da. Tentaram nos enterrar não sabiam que éramos sementes: Um diário-tributo aos corpos que não importam. 2018. 47 páginas. Trabalho Monográfico – Universidade Federal do Rio de Janeiro; RJ, 2019.

BUTLER, Judith. Traços humanos na superfície do mundo. Em: #PandemiaCrítica. N° 42. São Paulo: n-1 edições, 2020.

CARVALHO, Pâmela. Pandemia de desigualdades. Em #PandemiaCrítica. N° 60. São Paulo: n-1 edições, 2020.

CASTRO, Eduardo Viveiros de. O que está acontecendo no Brasil é um genocídio. Em: #PandemiaCrítica. N° 70. São Paulo: n-1 edições, 2020.

CEZAR, João Marcelo de O. Corpos que (não) importam enchem o lago de sangue. E ele está ali com seu jet ski. Em: #PandemiaCrítica. N° 83. São Paulo: n-1 edições, 2020.

EVARISTO, Conceição. Prefácio. In: DUARTE, Mel. Querem nos calar: poemas para serem lidos em voz alta. São Paulo: Editora Planeta, 2019.

FEDERICI, Silvia. Capitalismo, reprodução e quarentena. Em: #PandemiaCrítica. N° 58. São Paulo: n-1 edições, 2020.

HARLEY, David. Política anticapitalista em tempos de corona vírus. 2020. Tradução de:
Cauê Seigner Ameni. Em: https://jacobin.com.br/2020/03/politica-anticapitalista-em-tempos-de-coronavirus/. Acesso em 10 de junho de 2020.

KILOMBA, Grada. Entrevista proferida no site da CNN Brasil. São Paulo. Junho, 2020. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/2020/06/06/o-brasil-e-uma-historia-de-sucesso-colonial-lamenta-grada-kilomba. Acesso em: 08 de junho de 2020.

KLEIN, Naomi. Como resistir à doutrina do choque de Donald Trump. The Intercept Brasil. 15 de Jun 2017. Disponível em: https://theintercept.com/2017/06/15/como-resistir-a-doutrina-do-choque-de-donald-trump/. Acesso em 05 de junho de 2020.

LOPES, Renata. Território silenciado, território minado: contranarrativas na produção de artistas afro-brasileiros contemporâneos. In: Territórios: artistas afrodescendentes no acervo da pinacoteca. São Paulo: Pinacoteca do Estado, 2016.

MBEMBE, Achille. Necropolítica. Arte & Ensaios. Revista do ppgav/eba/ufrj; n. 32. 2016.

MBEMBE, Archille. O direito universal à respiração. Em: #PandemiaCrítica. N° 20. São Paulo: n-1 edições, 2020.

MARQUES, Jota. Ele faleceu. Estamos cansados. A gente não tem direito de entregar comida, a gente não tem direito a cuidar dos nossos. A gente não tem direito a nada. Rio de Janeiro, 20 de mai 2020. Twitter: @jotamarquesrj. Disponível em: https://twitter.com/jotamarquesrj/status/1263227354668769281. Acesso em: 10 de junho 2020.

ROSA, Allan da. Literatura preta, periférica? Carícia ao nosso leitor já cansado de porrada ou chamar pro mel de labirintos incertos?. Revista O Menelick Segundo Ato. Set de 2016. Disponivel em: http://www.omenelick2ato.com/artes-literarias/literatura-preta-periferica-caricia-ao-nosso-leitor-ja-cansado-de-porrada-ou-chamar-pro-mel-de-labirintos-incertos. Acesso em: 01 de julho de 2020.

SAFATLE, Vladimir. Bem-vindo ao estado suicidário. Em: #PandemiaCrítica. N° 04. São Paulo: n-1 edições, 2020.

[1] Andréa Bak faz parte de um grupo de rap chamado Nefetaris Vandal, só de mulheres, onde abordam a diáspora do povo negro, das mulheres e da comunidade LGBTQIA+. Ela conheceu o slam em 2017, ano em que batalhou pela primeira vez no Slam das Minas RJ. Hoje em dia Bak é uma das organizadores do movimento no RJ.

[2] O slam das minas é um importante espaço de empoderamento desses corpos, visto que, em batalhas de slam abertas para todos os gêneros, por exemplo, pode rolar algum tipo de opressão ou apagamento por parte do homem, seja ela direta ou indireta.

[3] Os poemas declamados nos vídeos são transcritos e postados na legenda do Post no Instagram.

[4] “A bala perdida do estado não se perdeu”, slam por Shaira publicada no projeto “Quarentena Poética”, 2020.

[5] João Pedro recebeu um tiro na barriga e foi levado de helicóptero pelos policiais sem nenhum aviso aos seus familiares, que logo começaram uma campanha nas redes sociais a procura do menino.

[6] “Meu amigo cozinheiro postou a foto de uma receita no facebook”, slam por Tom Grito publicada no projeto “Quarentena Poética”, 2020.

[7] Posteriormente, no mês de julho, Bolsonaro foi diagnosticado com covid-19 e seguiu insistindo na fabulação de uma suposta eficácia da Cloroquina, chegando a produzir vídeos para as redes sociais tomando o medicamento.

[8] “O que vocês querem ver?”, slam por Moto Tai divulgado no projeto “Quarentena Poética”, 2020.