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Nova Iguaçu em Fotos | de Priscilla Castro e Tatiana Sant'Anna

Nova Iguaçu vem se transformando rapidamente. Aqui a cultura tornou-se a ponte que liga dois mundos, colocando a periferia no centro das discussões. Esse processo teve início há dois anos, quando o cineasta Marcus Vinicius Faustini foi convidado, pelo prefeito Lindberg Farias, para desenvolver uma ação cultural na cidade. Assim surge a Escola Livre de Cinema, que vem formando centenas de crianças e adolescentes da periferia da cidade. Em pouco mais de dois anos, produziu documentários, desenhos e até mesmo vinhetas para a Rede Globo de Televisão. A experiência, inaugurada em Miguel Couto, deu tantos resultados que, além de ser replicada para vários bairros de Nova Iguaçu, deu origem a diversas escolas livres de arte e tecnologia.

O êxito da Escola credenciou Faustini a assumir, em fevereiro de 2008, a Secretaria de Cultura e Turismo de Nova Iguaçu. A partir de sua posse, medidas simbólicas foram tomadas com o objetivo de provocar um choque de gestão. A transparência foi o primeiro gesto, marcada pela derrubada de todas as paredes do espaço em que a secretaria funciona. A disposição de dialogar com a cultura jovem e de rua também foi simbolicamente enfatizada na convocação da BXD Crew, que grafitou todas as paredes do espaço. Também iniciou um diálogo com a classe artística da cidade, que demonstrou disposição de uma política mais aberta, democrática e participativa.

O resultado foi a implementação de um procedimento didático por parte da secretaria. Iniciou-se aí um trabalho que privilegiava a criação de editais, extinguindo assim a tradicional política do balcão (cabe ressaltar que os editais foram iniciados na gestão anterior, sendo implementados na de Faustini). Nesse ínterim, o prefeito de Nova Iguaçu comprometeu-se em dotar a cultura com 1% do orçamento municipal, acompanhando assim a meta nacional. Desse modo, foram criados dois editais: o Fundo Municipal de Cultura Escritor Antônio Fraga e o Escola Viva/ Bairro-Escola, chamado carinhosamente de Pontinhos de Cultura.

O Fundo é resultado do trabalho do Conselho Municipal de Cultura, eleito na primeira Conferência Municipal de Cultura de Nova Iguaçu, realizada em 2005. O conselho trabalhou pela implementação da lei que criou o Fundo e, agora em 2008, foram destinados R$ 300 mil para apoiar realizações culturais na cidade. Ainda neste ano, foi realizada a segunda Conferência Municipal de Cultura, elegendo também um novo conselho pelos próximos dois anos. A conferência e os conselhos fazem parte de uma política nacional do MinC a fim de democratizar a gestão cultural nos municípios. Aqui, em Nova Iguaçu, o evento contou com uma grande e entusiasmada participação de artistas, ativistas e pessoas interessadas em cultura de modo geral.

O edital Escola Viva/Bairro-Escola visa apoiar a criação de pontos de cultura, daí o nome Pontinhos. Contando com um orçamento superior a R$ 3 milhões (metade destinada pelo MinC e metade pela prefeitura de Nova Iguaçu), ele vai apoiar ações culturais. Embora seja um projeto nacional, aqui ele tem duas particularidades. A primeira é que as ações culturais contempladas irão trabalhar junto às escolas do segundo segmento da rede de ensino da cidade. A segunda diz respeito à forma de divulgação do programa. Equipes da secretaria foram de bairro em bairro, de escola em escola, explicando o edital, incentivando a participação e estimulando a chegada de atores sociais geralmente excluídos desses processos, como funkeiros, evangélicos, rezadeiras e quejandos.

Os Pontinhos se transformarão em uma estratégia para unir educação e cultura na cidade, acompanhando a forma de atuação do principal programa de governo na cidade: o Bairro-Escola. Mas eles na verdade complementam uma relação de sinergia entre a Secretaria de Cultura e a de Educação. Isso já acontece tanto nas escolas livres de arte e tecnologia, quanto nas oficinas culturais do horário integral. Um dos momentos mais marcantes dessa sinergia entre cultura e educação se deu na caminhada de abertura do Fórum Mundial de Educação de 2008, quando crianças encapuzadas da Escola Municipal Venina Ribeiro (muitos deles já tendo experimentado casos de violência na própria escola) distribuíram rosas à população, inclusive para os policiais militares. Nessa mesma noite, um grande happening antecedeu o jantar à comunidade da Cerâmica, onde ocorreu a famosa chacina de 2005. Participaram desse jantar autoridades governamentais, pedagogos do mundo inteiro e a comunidade artística de Nova Iguaçu.

As ações culturais no horário integral vêm dando resultados tão bons que, no último censo do IDEB, as escolas de Nova Iguaçu deram um salto significativo, obtendo agora médias aguardadas apenas para 2011. Na foto ao lado, vemos crianças do ensino fundamental em uma oficina de artes plásticas. Há ainda oficinas de teatro, cinema, música, dança e muitas outras.

Uma dessas oficinas – de animação com massinhas – foi uma das atividades do I Festival de Cinema de Nova Iguaçu – I Iguacine. Realizado pela Escola Livre de Cinema e a Prefeitura Municipal de Nova Iguaçu, o primeiro evento de cinema da Baixada Fluminense mobilizou a cidade, atraiu cineastas de todo o Brasil e estimulou a criatividade de ações. Houve sessões de filmes realizados por uma só pessoa, filmes sociais, exibições em praças públicas dos bairros e uma sessão marcante: intitulada Minha primeira vez no cinema, levou crianças do Bairro-Escola para assistir ao filme Mutum, de Sandra Kogut.

Acima falamos sobre algumas ações da secretaria que julgamos mais representativas. Para concluir, vamos tratar de um projeto que reúne praticamente todas as estratégias comentadas, introduzindo um dado novo: a escala. Incorporando os 3.500 jovens atendidos no ProJovem, um programa do governo federal para facilitar a entrada da juventude no mercado de trabalho, o Minha Rua tem História tem o objetivo de estimular os jovens a pensar que a rua tem capacidade de expressão. A partir daí, a idéia é criar um banco de projetos de memória coletiva para a cidade. Para isso, as equipes do projeto distribuem MP4s nas 400 ruas (de 17 bairros) em que o programa é desenvolvido. Como diria a coordenadora do Bairro-Escola, Maria Antônia Goulart, o Minha Rua Tem História está “dando uma dimensão cultural à ação comunitária e ao proativismo juvenil”.

Este é um novo momento de Nova Iguaçu. Uma cidade que tem cultura para dar, vender, educar e muito mais.

* Crias de Nova Iguaçu, Priscilla e Tatiana participam da Escola Agência de Comunicação, que é mais uma das ações da Secretaria de Cultura e Turismo de Nova Iguaçu.

Fotos: Mazé Mixo. Também cria de Nova Iguaçu, Mazé é o fotógrafo oficial do Bairro-Escola e do Minha Rua Tem História.