Ano XIII 0201
2º semestre de 2018
dossiê
Tempo de leitura estimado: 34 minutos

O RAP (DE ELZA) DA FELICIDADE

Resumo: Este ensaio é a materialização de muitos pensamentos, algumas reflexões, conversas de corredor, reboladas entre uma festa ou um baile e ideias que surgiram entre “uma mão no joelho e outra na consciência”[1]. Objetiva pensar sobre a performance de Elza Soares para o “Rap da felicidade”, originalmente cantado por Cidinha e Doca, e de que forma essa canção em sua voz é um manifesto de resistência de uma mulher que representa várias outras que como ela são negras, pobres, faveladas. E que de um certo modo, em alguma parte de qualquer comunidade carioca clamam por ser felizes na favela onde nasceram, querem se orgulhar e ter consciência que pobre tem seu lugar. Reafirmar que o funk é um manifesto, uma arte que é efêmera, mas que consegue deixar pontuais legados que veiculam mensagens, descrições e reflexos da condição social da favela, que são atemporais.

Palavras-chave: Samba; favela; Elza Soares; música.

Abstract: This essay is the materialization of many thoughts, reflections, conversations on hall’s, rolling between a party or a dance and ideas that suggest between “one hand on the knee and one on the conscience”, thinking about Elza Soares’ performance for “Rap da Felicidade” by Cidinha and Doca and how this song in her voice is a manifest of resistance of a woman who represents several others that like her are black, poor, faveladas and that in some way, in any part of any community in Rio claim to be happy in the favela where they were born, who want to be proud and aware that poor people have their place, showing that Funk is a manifesto, an art that is ephemeral but that can leave punctual legacies that have messages, descriptions and reflections of the condition favela that are timeless.

Keywords: Samba song; favela; Elza Soares; music.

Elza (de Moça Bonita) Soares

Comecei a pensar, após a apresentação de um dos trabalhos no I Minervacon, em como uma mulher negra com tamanha força política como Elza Soares poderia embranquecer um funk, conforme foi afirmado em uma das apresentações na última mesa do evento. Me deparei com a biografia dela: uma mulher negra, nascida e criada na favela Moça Bonita, atualmente conhecida como Vila Vintém, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, que se casou cedo, pois no século passado parecia a pais pobres uma honra casar suas filhas ainda moças com homem de mais experiência; maternidade precoce, que velou dois filhos e o marido com meros 21 anos; aventurou-se no meio artístico em meio a tantas tristezas na vida, vítima do entrelugar em que a mulher negra está fadada a viver[2]; era antes apontada como “a amante que acabou com o casamento de Garrincha”[3] e, recentemente, era muito noticiada ou sempre comentada como a mulher com excesso de plásticas. Como poderia uma mulher negra, com tamanha vivência, tamanha biografia e trajetória de vida, ser uma força de “embranquecimento” do funk?  Apesar de não gostar da palavra, esta que foi utilizada.

Foto promocional do documentário O Gingado da Nega, em que Elza conta parte de sua carreira. Exibido pelo Canal Bis em 07/01/2014. Imagem disponível em: https://vimeo.com/69055991

Ela foi uma mulher sofrida, como muitas nessa sociedade machista, patriarcal e estruturalmente racista são, e, durante seu casamento extremamente conturbado de quase 20 anos com Garrincha, sofreu dos mais cotidianos males que as mulheres sofrem: a violência doméstica. Para além das marcas físicas que as agressões constantes lhe deixaram (segundo ela em várias entrevistas), há também as dores da alma, o psicológico das agressões que ficam como marca para uma vida, angústias que ela só expôs anos depois, quando a coragem foi suficiente e a cicatriz já não lhe torturava. Assim, lançou a canção “Maria da Vila Matilde”[4], presente no álbum A mulher do fim do mundo[5], em que fala abertamente sobre uma agressão doméstica à mulher, no caso a ela mesma, além de denunciar uma série de abusos que acontecem com as suas irmãs de cor, outras mulheres negras que são extremamente silenciadas, como elucida Sueli Carneiro:

Fazemos parte de um contingente de mulheres com identidade objeto. Ontem, a serviço das frágeis sinhazinhas e de senhores de engenho tarados. […] Hoje, empregadas domésticas de mulheres liberadas e dondocas, ou de mulatas tipo exportação (Carneiro, 2003, p. 50).

Não pude crer que Elza, que se tornou símbolo de uma série de discussões com seu álbum intitulado Deus é mulher poderia desmerecer a canção. Resolvi debruçar-me sobre o DVD Beba-me e proponho um caminho de deliciosas músicas para chegar ao “Rap (de Elza) da felicidade”.

Beba-me (ou engula-me) – o DVD de Elza Soares

Em março de 2007, Elza da Conceição Soares subiu ao Palco do Sesc Vila Mariana para gravar o que seria seu primeiro DVD ao vivo. Das 22 faixas escolhidas para o repertório, voltarei a uma faixa em específico, presente tanto no CD quanto no DVD, em ambos os casos como última faixa/ faixa bônus. O que mais me chama atenção são as particularidades nela presentes – que aqui serão apontadas – tais como o arranjo, a citação musical que nela é feita e como isso de certa maneira articula com a realidade que é vivida nas favelas.

Capa do DVD Beba-me, de Elza Soares, lançado pela gravadora Biscoito Fino em 2007. Disponível em: https://biscoitofino.com.br/produto/beba-me/)

Tratarei da faixa “Rap da felicidade”, funk originalmente cantado por Cidinha e Doca, lançado em 1995, que Elza regrava, 12 anos depois, com um arranjo reorganizado, leves alterações na letra original em uma roupagem que, minuciosamente pensada, parece ser algo tão contemporâneo e atemporal que no Brasil de 2018, me é difícil acreditar que já se passou tanto tempo desde a primeira execução do “Rap da felicidade” nas rádios. Levanto aqui duas motivações principais: tentar explicar que não há um “embranquecimento” desse funk (como ouvi há um tempo em um evento na academia) e, principalmente, como essa gravação de Elza parece tão Brasil 2018 pós-desfile da Paraíso do Tuiuti[6], embora existam pequenos rastros deixados, tão mínimos, mas que na pressa pelo instantâneo, nesse perturbado contemporâneo, não estimasse tempo suficiente para dar conta de alguma reflexão.

A composição da performance: o show pelo show

Ora, isso me faz repensar o sentido da performance do show, o sentido do próprio show e da composição performática que se dá com o figurino, a escolha das canções e, talvez intuitivamente, com a ordem em que elas estão dispostas ao longo do show. Apesar das mudanças na ordem das canções do CD para o DVD, proponho um olhar sobre o DVD, que contém o show completo e segue a seguinte ordem, conforme contracapa:

1 – Meu guri
2 – Dura na queda
3 – Estatutos da gafieira
4 – Cartão de visita
5 – Pra que discutir com madame
6 – O neguinho e a senhorita
7 – Exagero
8 – Dor de cotovelo
9 – Volta por cima/ Fadas
10 – Flores horizontais
11 – Pranto livre
12 – Palmas no portão
13 – Lata d’água
14 – A carne
15 – Telecoteco
16 – Telecoteco n°2
17 – Contas
18 – Se acaso você chegasse
19 – Malandro
20 – Beija-me (Beba-me)
21 – Salve a Mocidade
22 – Rap da felicidade (Faixa bônus)
(Faixas obtidas junto a uma cópia original do DVD do show, lançado em 2007 pela gravadora Biscoito Fino).

Existe um diálogo entre as faixas desde a primeira, “Meu guri”, na qual ecoa a voz de uma mãe pobre sobre seu filho, à última, “Salve a Mocidade”, referência à sua paixão, a Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel, nascida nas proximidades de onde Elza é “cria”. Esse diálogo se confirma na faixa bônus, última do show, o “Rap da felicidade”, que sintetiza a luta e o grito desta mulher negra, pobre, da favela, da luta e de sonhos. Mas posso dizer que há mais que isso: há uma voz que fala por um povo. Diferentemente do que é defendido por Spivak em seu Pode o subalterno falar (2010), em que o subalterno tem sempre sua fala mediada por outra voz, Elza, graças a sua exposição midiática e grande repercussão de sua figura, parece deslocada do contexto de subalternidade. Ela é a própria subalterna que fala pelos subalternos e, na sua posição ainda mais periférica de mulher subalterna e mais ainda de mulher negra subalterna, fala por sua própria voz, sem precisar de mediação.

Outro fator importante no entrelaçamento e no diálogo que as canções estabelecem entre si, ela expõe outro grande problema social pelo qual a mulher negra passa, como a violência singular que sofre em uma sociedade estruturalmente racista. Muitas vezes, pela condição social à qual é submetida, como a falta de acesso à educação, saúde de baixa qualidade, pouca ou nenhuma qualificação profissional, elas se veem obrigadas, com muita frequência, a ocupar postos como os de empregada doméstica, funcionárias da limpeza, vendedoras ambulantes e demais funções que ficam sempre à margem e por muitos não são olhadas e nem vistas no dia a dia da correria. Elza expõe isso na canção “Pra que discutir com madame”. Também há uma reflexão sobre a mulher negra como corpo-objeto, a serviço do homem. Um trecho do livro Mulheres, cultura e política (2017), de Angela Davis, nos ajuda a ter uma luz sobre o pensamento que entrelaça um conjunto de faixa cantadas por Elza em sequência:

Estupro, intimidação sexual, espancamento, estupro conjugal, abuso sexual de crianças e incesto são algumas das muitas formas de violência sexual explícita sofrida por milhões de mulheres neste país. […] O fato de que praticamente todas nós podemos recuperar episódios similares em nossas memórias de infância é a prova do grau em que a violência misógina condiciona a experiência feminina em sociedades como as nossas (Davis, 2017, p. 41-43).

Após essa leitura breve de um trecho do capítulo “Nós não consentimos: a violência contra as mulheres em uma sociedade racista”, posso refletir, fundamentalmente, sobre algumas alusões presentes no show, das quais considero a mais capital, como caminho que levará às canções “Salve a Mocidade” e, propriamente, ao “Rap da felicidade”.

A trilha musical até “Ser feliz”[7]

Sem desconsiderar as faixas iniciais do show, das quais as mais singulares já foram mencionadas, penso que esse caminho se inicia na faixa de número 12, “Palmas no portão”, trilhado em algumas melodias e letras, os tons melancólicos e destaque para a grande voz de Elza, uma espécie de autocanto de uma realidade outrora vivida e que é revisitada pela sua arte.

Já na primeira faixa mencionada, “Palmas no portão”, há um claro exemplo sobre a solidão da mulher negra, que na canção chora por não ser visitada por seu amado, mostrando o abandono pelo qual muitas dessas mulheres passam. Seguindo para “Lata d’água”, em que uma mulher sofre vivendo em uma comunidade, temos uma transição temporal: em pleno 2018, além da falta de saneamento básico em muitas comunidades, há também a evidência de uma força de trabalho dupla, não só a de carregar água, mas a de ser mãe solteira, realidade muito comum na população brasileira. Em se tratando de mulheres negras, a situação é ainda mais grave: ou elas são abandonadas por seus companheiros por diversos motivos, ou são vítimas da violência e têm seus maridos, também negros, assassinados pelas forças que deveriam dar segurança, mas confundem guarda-chuvas com armas de fogo[8] e assassinam pais de família como Rodrigo Alexandre da Silva Serrano, alvejado em um dia de chuva, 17 de setembro, deixando para trás mais uma mulher negra com sua vida dilacerada e mãe solteira.

Em “A carne”[9], Elza faz o apogeu do show, expondo a negligência do Estado com os corpos negros, com a violência por eles sofrida, com os assassinatos que ficam sem solução, pelas associações ao que é ruim e diretamente feitas ao povo negro, pelo que acontece diariamente e não vemos ou fingimos não ver. Há um lamento de Elza ao dizer que “a carne mais barata do mercado é a carne negra”, porque de fato é.[10] É o corpo que pouco importa, a carne que sofre, que é marginalizada, foi escrava, é jogada ao relento e por fim acaba esquecida, jogada em valas ou simplesmente é um corpo que some, pois afinal “Onde está o Amarildo?” ou mesmo “Quem matou Marielle?”[11].

Em “Teleco-teco”[12], volta-se à situação do corpo-objeto da mulher negra. Nessa canção há um jogo, uma citação a duas outras canções: a primeira, “Praça Onze”[13], de Herivelto Martins, conta a história do fim da Praça Onze, reduto das escolas de samba no início do século XX. Essa música mostra uma profunda tristeza pelo provável fim das escolas de samba, dizendo que, para além do choro dos instrumentos que não serão mais utilizados, há também o choro da favela. Há a memória, as recordações. É o fim de algo que foi bom, que deixará lembranças, a esperança de uma nova praça e um passado que será cantado.

A segunda citação, “foi pra mim”, refere-se à música “Samba feito pra mim”[14], que se justifica pela presença da citação dos versos: “Amei alguém, fui só de alguém, o mundo não procurou me compreender”. Há como referência dessas duas canções, um sujeito que está triste, pois vai deixar algo para trás, um amor, uma grande paixão, seja metaforicamente na figura da Praça Onze na primeira música, seja literalmente se pensarmos na segunda música. Algo que ele deixa por não ser compreendido, algo que ele deixa por não poder mais levar isso adiante, algo que ele espera que um dia volte para cantar o tempo de saudade e celebre a felicidade de um novo tempo. Com a construção dessas metáforas podemos entender que ele deixará a mulher, já que na segunda parte da música: “Você é um homem casado, não tem o direito de fazer carnaval”. Ora, entende-se aqui que a metáfora do carnaval nada mais é que ter relações sexuais com ela.

Há uma clara mensagem nessa canção em específico, um sofrimento de uma mulher que, para além de passar “a noite inteira acordada e a minha bronquite assim comecei”, um rancor, uma mágoa de se sentir usada por um homem que é casado, provavelmente, mente para ela e usa de charme e canções do conhecimento popular para criar uma atmosfera de descontração com essa mulher, com o objetivo de pressioná-la para conseguir o seu perdão. É evidente aqui a relação de poder (com o “jeitinho”) e de abuso que a mulher negra sofre. A mulher que se sente só por sua condição social massacrante, que é diferente da mulher branca, que é cortejada e se sente pressionada a dar o perdão. Parece muito simples, mas só a mulher e principalmente a mulher negra que passou por semelhantes situações sabe a quantidade de significados que esse “jeitinho” tem na relação de manipulação e tentativa de dominação do psicológico para que o homem consiga aquilo que quer.

Em “Teleco-teco n° 2”, há uma continuidade para além do título, uma espécie de justificativa do lamento da primeira música. É possível pensar que o verso “samba nasce em qualquer lugar” seja uma resposta à desculpa que o homem dera para lhe deixar, uma coerente e inteligente explicação de que quando se quer, dá-se um jeito, e que poderia ser encontrada uma maneira para que ele conciliasse a vida com ela e a amante. 

Na faixa “Contas”[15], o lamento da mulher, chefe de família. Contas a pagar, pouco dinheiro, da mulher que convive diariamente com o dilema de trabalhar ou cuidar dos próprios filhos, isso porque muitas delas cuidam mais dos filhos das patroas que dos próprios. E, por mais que ela pense elucidar seu dilema pedindo demissão de seu trabalho para dar “conta das contas do lar”, muito lhe faz recuar quando o pensamento dessa mulher negra é o de que sem trabalho não há dinheiro para as contas, mas com trabalho não lhe sobra tempo para dar conta do lar. E assim segue a vida…

“Se acaso você chegasse” dá início ao último bloco do show, seguido de “Malandro”, “Beija-me”, de Roberto Martins e Mário Rossi, a maior brincadeira do show, que merece um olhar especial, pois durante a performance, Elza altera várias vezes o verso “Beija-me” por “Beba-me”. Nessa canção ela sintetiza o martírio de seu tempo na favela, do tempo de qualquer morador de uma favela, em versos que sugerem que ela seja engolida, algo difícil para quem não gosta dela e não a aceita pelo sucesso que conquistou.

Por fim, antes do encerramento do show, há uma declaração do seu amor pelo Samba, a grande paixão da menina Elza, “Salve a Mocidade” Independente de Padre Miguel, escola de samba que nasce em Padre Miguel, território que antes era a favela de Moça Bonita, onde ela nasceu. Amor tão grande que a fez se declarar apaixonada e sambista por inúmeras vezes, desfilar pela escola e até cantar um trecho do samba-enredo de 2019 na gravação oficial do CD do Sambas de Enredo de 2019.

A sutileza para mandar a grande mensagem do que é esse show fica notável, uma síntese de sua carreira, sem negar de onde ela veio – a favela –, o que ela é – uma mulher negra que luta, que está na luta – e, além disso, uma favelada que quer paz, quer tranquilidade, que não deseja mais ser marginalizada pelo que é e sim respeitada pela luta diária de sua vida. É assim que o show termina com a faixa bônus, com o “Rap da felicidade” coroando a Rainha Elza. Parece que este show, que marcaria uma pausa em sua carreira, já que Elza o lança em CD e DVD em 2007 e só retorna com um álbum novo em 2015, seria a grande virada em sua carreira, despontando-a como símbolo de uma série de discussões contemporâneas.

O Rap

Dupla Cidinho e Doca: intérpretes da versão original do “Rap da Felicidade”, lançado em 2004. Imagem de uma visita feita pelos dois à Cidade de Deus para entrevista ao jornal Extra. Disponível em: https://extra.globo.com/tv-e-lazer/musica/dupla-cidinho-doca-retoma-parceria-grava-disco-para-celebrar-20-anos-de-carreira-11646102.html)

A música “Rap da felicidade” tem uma letra melódica, um ritmo menos acelerado e marcado por uma sequência única de batidas, bem diferente do que conhecemos hoje em pleno 2018 por funk, seja nas comunidades, com o acelerado ritmo em 150BPMs (batidas por minuto), seja pelo funk mais comercial que chega às rádios com 130/135BPMs. Ela ainda carrega o “rap” no nome – já que historicamente, no Brasil, o funk começa com o movimento dos “melôs”, assim como nos EUA, onde o ritmo nasce da mistura de ritmos afro-americanos, depois caminha no sentido de se nomearem “raps”, até que, por fim, os movimentos de antropofagia nas favelas consolidam o que temos hoje pelo nosso único e mundialmente reconhecido funk. E parece que crítica social é mesmo receita de bolo em determinadas épocas. Fosse na música, nas artes ou no carnaval, o final da década de 1990 foi propício às críticas, que obtiveram muito sucesso, e com o “Rap da felicidade” não seria diferente.

Com uma estrondosa repercussão nas rádios, nos milhares de discos vendidos e na participação em diversos programas de TV, Cidinha e Doca se tornaram conhecidos nacionalmente pela música que tinha um singelo pedido, mas que talvez fizesse sucesso, no cenário político da época: a grande parte da população brasileira, a grande consumidora dos meios de massa com rádio e televisão, que se via representada na súplica que a canção entoava “Ser feliz na favela onde EU nasci…”. Esse “eu”, marca de primeira pessoa, com referência indeterminada, um sujeito que não se identifica, mas que pode ser qualquer morador de uma comunidade que é assolada pela violência, é para que cada um que cantasse a música, que tocava exaustivamente nas rádios ou estava em todos os programas exibidos na TV, fosse em uma favela carioca, na periferia de São Paulo, no Nordeste, imensamente esquecido em diversos aspectos, ou por qualquer um que sentisse que aquela fala era sua também.

Não se pode negar o grande sucesso que essa música teve e a atemporalidade que essa espécie de “súplica” das favelas ganhou, o que a fez se tornar trilha sonora do filme Tropa de Elite em 2007 e regravação no DVD de Elza Soares no mesmo ano. Talvez essa música seja um daqueles fenômenos que não conseguimos dizer como se deu, mas é de extrema importância reconhecer essa produção como um manifesto político, uma marca histórica do início do movimento funk no Brasil, que passaria por várias mudanças em sua trajetória, mas nunca perdendo sua essência.

Por dentro do “Rap de Elza”

E para encerrar seu show e DVD, Elza traz a sua versão do “Rap da felicidade”, com uma “citação musical”, uma espécie de abertura que se faz antes da faixa principal, onde um cantor geralmente cita outra canção com a qual ele pensa estabelecer um diálogo (o que aqui realmente se dá), pois a citação escolhida é a cantiga popular “Se essa rua fosse minha”, com uma letra repleta de metáforas que estabelecem uma conexão fortíssima com o “Rap da felicidade”. Apreciemos um trecho da cantiga[16]:

Se essa rua
Se essa rua fosse minha
Eu mandava
Eu mandava ladrilhar
Com pedrinhas
Com pedrinhas de brilhante
Para o meu
Para o meu amor passar
(Cantiga popular)

É notável neste trecho apreciado uma certa melancolia, há na simplicidade de uma canção infantil um gesto muito mais simbólico que o simples arranjo que antecede a canção apresentada por Elza; se ligada ao “Rap da felicidade”, uma simples cantiga popular pode dizer mais que as simples palavras ali expressas.

A citação musical faz uma síntese de tudo que já foi visto no show anteriormente, os personagens citados nas canções, o sofrimento das mulheres e o lamento das mães solteiras, o caminhar de cada morador na singularidade, não só dos seus problemas, mas na coletividade, já que todos que passam por esses problemas encontram um ponto em comum: a rua, essa rua, a rua que pode ser de cada um. E não é difícil repensar a realidade de uma favela carioca quando lemos sobre elas diariamente nos jornais. Claro que muitos têm um olhar de fora, do espectador, não de quem mora, mas com um mínimo de empatia, há que se ter uma mínima noção, uma vez que nem todos moram nas favelas e nem todos as frequentam, muitas vezes por medo. E mesmo com essa luz que a mídia lança sobre essas comunidades, mostrando a violência ou muitas vezes um recorte que interessa ser mostrado, remarcar que cada um tem o seu ideal de lugar de onde vem e o seu pertencimento, uma particularidade que une o indivíduo àquele lugar, e, mais uma vez, a rua é o ponto comum que une a todos.

Insisto nisto, na ideia de que a RUA aqui é decisiva para entender o desfecho do show, direcionando o pensamento a dois casos específicos do retrato das favelas do Rio de Janeiro, apontando sua relação com a rua. O primeiro, de Marcos Vinicius Silva, morto durante um confronto entre policiais e traficantes no conjunto de favelas da Maré[17], quando o menino ia para a escola. A criança foi baleada na rua. Em entrevista à impressa, a mãe declarou[18]:

Quando cheguei na UPA ele estava com vida. Ele falou ‘mãe eu sei quem atirou em mim, eu vi quem atirou em mim’. Eu falei ‘meu filho, quem foi que atirou em você?’. ‘Foi o blindado, mãe. Ele não me viu com a roupa de escola” (Trecho da entrevista de Bruna da Silva, mãe de Marcos Vinícius, concedida ao G1).

O segundo caso é a imagem, capa de diversos jornais no Brasil e no mundo, que chocou ao mostrar crianças vendando crianças mais novas, ao passarem por corpos mutilados e ensanguentados pelo chão, em uma rua na favela da Rocinha[19]. Essas narrativas trágicas têm como pano de fundo a rua, que é um lugar de convívio, de passagem, mas que traz consigo uma tragédia particular, um sentimento de revolta, de dor, particular de cada um.

Por essa razão, os versos “Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci”, precisavam aqui, expostos por uma mulher negra que sofreu na favela, ser antecedidos pela simples citação musical de “Se essa rua fosse minha”. Mas, e se realmente ela fosse, será que a mãe de Marcos teria o filho nela baleado, uniformizado a caminho da escola? Será que as mães e os pais de cada uma daquelas crianças que passaram por aqueles corpos ensanguentados não gostariam que nela seus filhos tivessem que caminhar por outras ruas que não fossem aquelas com marcas de morte, da violência e de sangue? Elza dá a cada um o poder de ter a rua, de se apropriar dela, para que dela façam um caminho melhor por onde possam passar.

Quando Elza gravou o DVD Beba-me, em 2007, já se tinha um panorama da violência, que só cresceu desde então, e do descaso com as comunidades cariocas. Já se tinha um retrato triste do que era a vida em uma comunidade, mas a imortalidade da obra é tão emblemática que, em 2018, 11 anos depois da gravação, a canção e as reflexões sobre todas as escolhas são tão simbólicas e tão comunicativas, que a intencionalidade ao ser produzida parece ter a vontade de se comunicar com um público específico, o que realmente quer “ter a consciência que o pobre tem seu lugar”.

Ela traz luz à ideia da rua e cria uma noção de diálogo dessa mesma rua, que pode ser de qualquer um, para não ser lugar de tragédia, com os movimentos da música, trazidos pelos verbos de ação. Quando a canção evoca o verbo de primeira conjugação “andar”, o sujeito da canção anda por essa rua, que se fosse dele, mandaria ladrilhar de brilhantes, apagando assim as marcas de sangue de inocentes que sequer têm seus nomes conhecidos, dos Marcos Vinicius da vida, que morrem todos os dias a caminho da escola, a caminho do futebol com os amigos. De Amarildo que não tem corpo, que não tem o lugar físico da memória do homem que deixou a família; de Marielle e de Anderson, que têm seus corpos atravessados por tiros, um caso ainda sem solução.[20]

Trazer essa canção com esse arranjo é mais que um manifesto, é a própria Elza que aqui é o subalterno que tem fala, é aquela que fala por uma realidade que é sua, a do medo, da dor, de quem mora na favela, que é desrespeitado, que pede paz, pede justiça, que não aceita mais que sua carne seja a mais barata, que não quer mais seu corpo tratado como objeto. Aqui temos um fim anunciado da missão desse show: fazer descer goela abaixo a hipocrisia e a intolerância que por anos criticaram essa mulher, a realidade e o lugar de onde ela vem, que ela quer cantar, que ela suplica que mude. É Elza por Elza manifestando por um povo, seu povo, o povo negro, favelado, sofredor.

O lugar teórico de Beba-me e a singularidade do “Rap de Elza”

Para além do que já foi dito, há também para se pensar uma memória de Elza na narrativa desse DVD, não a memória vista, mas uma memória no imaginário. Reflito junto a Hugo Achugar, em seus “Planetas sem boca”, na memória imaterial:

Refiro-me ao lugar teórico a partir de onde se fala, que está configurado, entre muitos outros elementos, pela memória. Uma memória que é local ainda que atravessada pelo nacional, o regional e o internacional. Ou seja, falo a partir de um lugar contaminado pela memória e povoado de monumentos que nem sempre têm a materialidade do mármore, do bronze ou da escrita (Achugar, 2006, p. 179).

Ora, ao pensar acerca disso em um dos ensaios que compõem os “planetas sem boca”, Achugar nos mostra a perspectiva de fala a partir de um lugar que existe apenas na memória, que, ou nunca existiu ou deixou de existir. É muito lúdico pensar que é isso que Elza faz quando refletimos que cada personagem cantado ao logo das 22 faixas representa uma parte do conturbado cotidiano de Elza na favela Moça Bonita. Local do qual Elza fala, e nos fala, nesse DVD. Mas principalmente é pensar em um lugar que agora fica apenas no imaginário de Elza, já que, para além da configuração do espaço e do tempo serem diferentes, a favela agora possui outro nome. E parece pouco possuir apenas outro nome, mesmo que o lugar fosse o mesmo, mas o nome é a primeira parte da nossa construção de identidade, e é assim que vemos Elza, a mulher de Moça Bonita. Ao receber outro nome, além de ser outra favela, da demanda de tempo que os moradores levam para se adequar ao novo nome, a nova identidade, que muitas vezes muitos renegam. Como o caso dos moradores da Vila do João, que tiveram os nomes de suas ruas trocadas pelo então prefeito da cidade do Rio de Janeiro[21], Marcelo Crivella, que, em 2017, seu primeiro ano de mandato, trocou o nome das ruas da comunidade por nomes que sequer a população conhecia. Nome é emblemático, é uma marca, a primeira construção de identidade. A troca do nome da favela de Moça Bonita, leva as memórias de Elza de um lugar material para apenas o lugar memorial que habitam em seu pensamento.

Por um reflexivo desejo: poder se orgulhar

Com tantos pensamentos em diálogo não só com a realidade de 2007, mas com o atual cenário que vivemos em 2018, é categórico afirmar que Elza Soares manifesta toda sua vida e suas memórias de vivência na favela nesse show. Aqui ela saltará de um hiato que dura de 2007 a 2015 para uma grande voz das discussões contemporâneas, do pensamento das mulheres, voz de denúncia que fala por si e por milhares como ela.

A narrativa performática que se desenha no show resgata não só a sua carreira, mas reinventa a Elza que já era aclamada, consolidando-a como a grande artista que ela é, mas também revela diante do público sua vida forte e estilhaçada por uma trajetória em condições mínimas.

Elza Soares afirma nesse DVD sua negritude, seu grito de resistência, de luta, de força e de garra como mulher negra, representante cultural, como voz subalterna de outras subalternas que precisam ter luz jogada sobre suas dores. Ela é essa luz, e mostra com graça, leveza, sutileza e um charme em cada detalhe do show, desde a simples cenografia à singularidade de seu figurino, uma realidade que muitas vezes é jogada para debaixo do tapete, que passa despercebida no cotidiano de pessoas que não vivem naquele lugar que é a favela. Ela reafirma que é preciso ter consciência de classe, reconhecer-se pertencente àquele lugar, orgulhar-se e lutar para ter orgulho dele.

Finaliza o show saudando a Mocidade, sua escola de samba do coração, e a mocidade, a juventude, a esperança dessa luta, semente que aqui ela planta e cujos frutos vemos hoje, seja os que ela plantou, seja de outras mulheres que vêm da mesma luta que ela, mas que são os frutos do progresso.

Enaltecer é preciso. Assim, deixa-se ao fim não o final definitivo, mas ao fim desta página um salve a todas as mulheres negras, cis e trans que lutam todos os dias por sobrevivência, por um mundo mais justo e que muito me enchem de orgulho. Salve a arte, viva a Favela, evoé Elza, Elza de Moça Bonita Soares.

Vanubia Close,
No 29° dia do mês de setembro do ano de 2018,
O dia em que o Brasil uniu forças e disse #EleNão
(E que essa escrita tenha sido lida por você, em um Brasil onde o ódio não venceu).

Samile Cunha,
No 10° dia do mês de dezembro do ano de 2018,
Ele venceu, mas nós resistiremos,
pois “Vai sair, de dentro de cada um, a Mulher vai sair”.


* Heterônimo in persona de Artur Vinicius A. Santos. Vanubia Close é travesti, ativista política de direitos LGBT, escritora, dançarina, psicóloga das ruas, leitora assídua, amante de músicas populares como samba e funk. Esta criação parte de uma série de recortes e referências de Artur em um processo de antropofagia que resulta em Vanubia, este ser que se apresenta como pessoa e divide a identidade com o próprio citado e leva as ruas à academia e a academia às ruas.

** Samile Cunha é a persona que Samuel Abrantes, professor doutor da Escola de Belas Artes da UFRJ assume. Samile nasce como Dalva Garça Dourada, em uma brincadeira para o Carnaval de 2004 da G.R.E.S. São Clemente, no enredo “Boi Voador sobre o Recife – Cordel da Galhofa Nacional”, interpretando uma chacrete, a convite do então carnavalesco da Escola Milton Cunha. Dois anos mais tarde adota o nome de Samile e o sobrenome Cunha em homenagem a Milton. Assim, Samile desfila em diversas escolas todos os anos e toma a academia quando, em 2014, Samuel lança o livro Transconexões, memória e heterodoxia, no qual faz um resgate biográfico de Samile. Desde então, apenas Samile é convidada à academia, o que faz da Travesti do Samba, uma intelectual.

Referências

ACHUGAR, Hugo. Planetas sem boca: escritos efêmeros sobre arte, cultura e literatura. Tradução de Lyslei Nascimento. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006.

BHABHA, Homi K. O local da cultura [1949]. Tradução de Myriam Ávila, Eliana Lourenço Reis, Gláucia Renate Gonçalves. 2ª ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2013.

CARNEIRO, Sueli.Enegrecer o feminismo: a situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero. In: ASHOKA EMPREENDEDORES SOCIAIS; TAKANO CIDADANIA (Orgs.). Racismos contemporâneos. Rio de Janeiro: Takano Editora, 2003.

DAVIS, Angela. Mulheres, cultura e política [1994]. Tradução de Heci Regina Candiani. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2017.

RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento; Justificando, 2017.

SPIVAK, Gayatri Chakravotry. Pode o subalterno falar? [1942]. Tradução de Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitosa e André Pereira Feitosa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

Sites consultados:

1. https://www.redbull.com/br-pt/Elza-Soares-e-o-lado-obscuro-do-paraiso (Acesso em 10 set 2018)

2. https://noticias.bol.uol.com.br/bol-listas/curiosidades-que-talvez-voce-nao-saiba-sobre-a-cantora-elza-soares.htm (Acesso em 15 set 2018)

3. http://revistadonna.clicrbs.com.br/gente/em-entrevista-elza-soares-fala-sobre-prazer-violencia-domestica-e-preconceito-quando-ninguem-tinha-coragem-de-assumir-sua-negritude-eu-assumi/ (Acesso em 16 set 2018)

4. https://odia.ig.com.br/_conteudo/diversao/celebridades/2015-11-30/ja-levei-muita-porrada-diz-elza-soares.html (Acesso em 18 set 2018)

5. https://mdemulher.abril.com.br/famosos-e-tv/elza-soares-voce-precisa-conhecer-a-historia-dessa-guerreira/ (Acesso em 21 set 2018)

Outras referências:

Beba-me (CD) – Elza Soares: Gravadora Biscoito Fino; gravado em março de 2007 no Sesc Vila Mariana (SP) em parceria com o Canal Brasil. Tiragem AB2500. 15 Faixas.

Beba-me (DVD) – Elza Soares: Gravadora Biscoito Fino; gravado em março de 2007 no Sesc Vila Mariana (SP) em parceria com o Canal Brasil. Tiragem AA3500. 22 Faixas.

Documentário – O Gingado da Nega – Canal Bis: Exibido em 07 jan 2014.

Disponível em: https://vimeo.com/69055991  

Notas

[1] Frase dita por Vanubia Close (heterônimo in persona), durante a apresentação do trabalho “O som de Preto que conquistou o mundo: a antropofagia da favela nas letras e no baile funk” no I Minervacon: Encontro de Estudos Interdisciplinares de Linguagens, Mídia e a Cultura Pop, realizado no dia 06 de junho de 2018 na Faculdade de Letras da UFRJ na Ilha do Fundão.

[2] Este que é apontado por Sueli Carneiro no artigo “A situação da mulher negra na América Latina a partir de uma perspectiva de gênero”.

[3] Quando Elza Soares e Garrincha começaram seu relacionamento ele ainda era casado com sua ex-mulher e Elza estava em seu início de carreira. Muitos da mídia mais conservadora a apontavam como “destruidora de lares”.

[4] Lançado em 11 de agosto de 2015 como primeiro single do álbum A mulher do fim do mundo.

[5] Lançado em 3 de outubro de 2015 pelo selo Circus Produções, com 11 canções.

[6] GRES Paraíso do Tuiuti é uma agremiação do Rio de Janeiro que desfilou em 2018 pelo Grupo Especial das Escolas de Samba com o enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”. A escola arrebatou a Marquês de Sapucaí em um desfile comovente que lembrava a escravidão chegando até a reforma trabalhista. Com isso, ela que era cotada para ser rebaixada, já que a agremiação com menor pontuação desfila no ano seguindo em um grupo inferior, alcançou o 2° lugar da classificação geral.

[7] Alusão a um trecho do “Rap da felicidade” que diz: “Eu só quero é ser feliz”.

[8] Consultado em: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/09/19/politica/1537367458_048104.html

[9] Consultado em: https://www.letras.mus.br/elza-soares/281242/

[10] Refiro-me aqui, em apenas uma frase, a todo um caminho refletido por Achille Mbembe em seu Crítica da razão negra.

[11] Na presente data de revisão deste artigo, aos 10 dias do mês de dezembro de 2018, o crime ainda não havia tido solução. Nesta mesma data, Marielle Franco foi homenageada na ALERJ com a medalha Tiradentes, recebida pelas mãos de seu pai, no dia dos Direitos Humanos.

[12] Consultado em: https://www.letras.mus.br/elza-soares/1280641/

[13] Consultado em: https://www.letras.mus.br/herivelto-martins/386766/

[14] Consultado em: https://www.letras.mus.br/elis-regina/542639/

[15] Consultado em: https://www.letras.mus.br/elza-soares/contas/

[16] Cantiga acessada em: https://www.letras.mus.br/cantigas-populares/134098/ no dia 23/09/2018.

[17] Consultado em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/morre-adolescente-ferido-durante-tiroteio-na-mare.ghtml

[18] Consultado em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/testemunha-que-socorreu-adolescente-morto-na-mare-diz-que-tiro-partiu-da-policia.ghtml

[19] Consultado em: https://oglobo.globo.com/rio/exposicao-de-criancas-violencia-na-rocinha-desperta-preocupacao-de-pais-especialistas-21934661

[20] Leva-se em consideração que o texto foi escrito no mês de setembro do ano de 2018.

[21] Consultado em: https://extra.globo.com/noticias/rio/crivella-muda-nomes-de-ruas-na-vila-do-joao-21905331.html