Dizem que a culpa foi da pandemia. Deve ter sido. O fato é que, sem aviso prévio, descortinou-se, com num close up, o panorama da desigualdade selvagem, da fome e da miséria, talvez muito conhecido mas pouco sentido. Nesse quadro, a violência e o machismo foram potencializados e a taxa de feminícidio aumentou exponencialmente.
Mas, talvez, o que tenha ficado mais evidente nesse momento é o racismo subcutâneo e infiltrado na estrutura mesma da linguagem e das instituições. Ganhou o nome bonito de “racismo estrutural”, agora sempre presente nas disputas acadêmicas e nas mídias sociais.
O livro White fragility, sucesso de vendas nos USA, foi traduzido mudando o foco original da branquitude para um outro título mais comprido e mais palatável: Não basta não ser racista, sejamos antirracistas. Seja como for traduzida, é irrefutável que a branquitude está sendo convocada para assumir-se como sujeito do racismo. A hora é essa. O privilégio da fala e do acesso – entre outros – não pode esperar para ser compartilhado.
Neste número da Revista Z Cultural, vale a pena ler de novo uma das mais belas escrevivências de Conceição Evaristo, arma poderosa não mais para adormecer as sinhás, como na época colonial, mas para nos acordar para a História.